Opções de câmbio: teto e piso simples

Guia prático para CFOs: teto e piso em USD, diferença para NDF e collar, precificação, riscos e playbook de 90–180 dias.

Nov 12, 2025 - 08:08
Nov 12, 2025 - 19:30
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Opções de câmbio: teto e piso simples

Opções de câmbio “teto e piso” (simples): como desenhar um orçamento de dólar com previsibilidade e upside

Tempo de leitura: 14 min

Resumo executivo

As opções de câmbio do tipo teto (cap) e piso (floor) são estruturas simples que limitam o preço do dólar em um orçamento sem “engessar” completamente o resultado. Em importadores, o teto protege contra a alta do USD; em exportadores, o piso garante mínima de conversão. Diferente do NDF (que fixa uma taxa única), o teto/piso mantém assimetria: você é protegido no cenário ruim e participa — parcial ou integralmente — do cenário bom. Este guia mostra como montar, precificar e governar essas estruturas, os riscos operacionais, a diferença para o collar de custo zero e um playbook para implementar em 90–180 dias, com CTAs para simular o impacto na margem e nos desembolsos.

O que são “teto” e “piso” no câmbio (versão sem economês)

Teto (cap) é, tipicamente, a compra de uma call de USD com strike K. Se o dólar subir acima de K na data de exercício, a opção compensa a alta; se o dólar cair, você ignora a call e se beneficia do câmbio mais baixo. Já o piso (floor) é, normalmente, a compra de uma put de USD. Se o USD cair abaixo de K, você exerce a put e garante a mínima de conversão; se o dólar ficar acima do piso, você vende no mercado e melhora o preço.

O segredo é que o teto e o piso são opções compradas (long options). Assim, o risco é limitado ao prêmio pago, e o benefício pode ser significativo. Quem quer reduzir o custo do prêmio pode vender uma opção contrária e formar um collar (assunto que tocaremos mais adiante), mas aqui focamos nas estruturas simples: comprar um teto ou comprar um piso, sem perna vendida.

Quando usar cada uma

  • Importador / exposição passiva em USD: protege o orçamento de compras, fretes e CAPEX dolarizados. Ferramenta: teto (compra de call).
  • Exportador / exposição ativa em USD: garante taxa mínima de conversão de receitas. Ferramenta: piso (compra de put).
  • Projetos com “gate” de investimento: CAPEX importado com cronograma incerto pode usar teto por janelas (30/90/180 dias) para neutralizar surpresas de orçamento sem travar a taxa final.
  • Política de preços com repasse parcial: setores com concorrência alta (varejo, alimentos, químico) podem não repassar totalmente a variação do dólar — o teto reduz a volatilidade de margem.

Teto/piso simples x NDF x termo: qual a diferença?

  • Teto (call comprada) / piso (put comprada): você compra um seguro contra movimentos adversos, mantendo upside em movimentos favoráveis. Paga prêmio à vista ou a termo.
  • NDF/termo: trava uma taxa (fixa) para uma data específica. Excelente para fechamento orçamentário com previsibilidade total, mas elimina o upside.
  • Collar: combinação de compra (teto/piso) com venda da opção oposta. Pode reduzir (até zerar) o prêmio, mas limita também o upside. É um “orçamento com trilhos”.

Regra prática: quer seguro e liberdade? Comece com teto/piso. Quer previsibilidade total e custo mínimo? Avalie NDF ou collar.

Como o prêmio é formado (intuição de preço)

O prêmio de uma opção depende principalmente de: (i) distância entre o strike e o preço à vista (moneyness), (ii) tempo até o vencimento, (iii) volatilidade implícita e (iv) nível de juros doméstico e externo. Em português claro: quanto mais tempo e mais volátil o par BRLUSD, maior o prêmio. Strikes “na linha” (próximos ao spot) custam mais; strikes “fora do dinheiro” (bem acima para teto, bem abaixo para piso) custam menos, mas protegem apenas cenários extremos.

Escolha do strike (regra de bolso)

  • Teto de importador: strike próximo ao pior orçamento aceitável (ex.: PTAX orçada + margem). Se o prêmio pesar, afaste gradualmente o strike até caber no orçamento.
  • Piso de exportador: strike próximo ao break-even operacional (custo em BRL + margem mínima). O piso protege a saúde de caixa.
  • Prazo: alinhe com o cronograma real de compras/recebimentos, preferencialmente em buckets mensais/trimestrais (rolling), para evitar concentração num único dia.

Exemplos práticos (ilustrativos)

Importador com orçamento trimestral

Spot em 5,20. A empresa compra call USD com strike 5,40 para 90 dias. Cenários: (a) se o USD vai a 5,80, a opção compensa ~0,40; o custo efetivo fica próximo a 5,40 + prêmio. (b) Se o USD cai a 5,00, ignora-se a call e a empresa compra a 5,00, absorvendo o ganho.

Exportador com recebíveis fixos

Spot em 5,20. A empresa compra put USD com strike 5,10 para 60 dias. (a) Se o USD cai a 4,80, a put compensa ~0,30; (b) Se o USD sobe a 5,50, a companhia vende no mercado e captura o câmbio mais alto.

Riscos e cuidados (mesmo nas estruturas simples)

  • Base e calendário: alinhe a opção ao centro de liquidação real (PTAX, spot de “window”, datas de embarque/pagamento). Mismatch de base ou de data pode corroer a proteção.
  • Over-hedge: não compre teto/piso para 100% do pipeline incerto. Proteja a parte firme (POs assinados, contratos), use NDF/opções adicionais para o provável.
  • Custos e contabilidade: entenda o tratamento contábil (hedge accounting quando aplicável) e como os prêmios são apropriados.
  • Liquidez e execução: opte por prazos e strikes com mercado líquido junto a bancos/corretoras com pricing competitivo e memória de preço.

Governança: política de hedge por janelas (12–18 meses)

Em vez de “tiros únicos”, formalize uma política de janelas com rolling trimestral, metas de 50–80% de cobertura dos fluxos firmes e faixas de strikes. Relate ao comitê: (i) cobertura vigente, (ii) prêmio acumulado, (iii) mark-to-budget e (iv) testes de estresse (BRL 4,80 / 5,40 / 6,20, por exemplo).

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Teto/piso simples x collar de custo zero

O collar clássico combina comprar um teto (call para importador) e vender um piso (put) para baratear o prêmio — ou o inverso para exportador. Isso transforma um seguro “aberto” em uma faixa de resultado: você reduz (ou zera) o custo, mas também limita o upside. Como regra, comece simples: aprenda a dimensionar o strike/comprimento da proteção. Só então avalie collars, de preferência com barreiras transparentes e documentação clara de risco.

Integração com o orçamento e com o CAPEX

Para importadores, sincronize o cronograma de opções com janelas de fechamento de câmbio de fornecedores e entregas (Invoice/BL). Em CAPEX dolarizado, trate cada marco do contrato (entrada, milestone de obra, comissionamento) como um bucket de hedge. Para exportadores, alinhe piso às datas de liquidação dos recebíveis e às políticas de crédito a clientes (prazo/funding de repasse).

KPIs para o comitê financeiro

  • Cobertura-alvo vs. cobertura realizada por bucket (30/90/180/360).
  • Prêmio total e prêmio por unidade de receita/custo protegido.
  • Desvio de orçamento (mark-to-budget) e impacto na margem/EBITDA.
  • Sensibilidades (Δ, Γ aproximados): como o portfólio reage a variações do spot e do tempo.

Playbook de 90–180 dias

  1. Mapeie a exposição: quantifique compras/receitas em USD por mês; separe firme vs. provável; identifique indexadores contratuais (PTAX/spot).
  2. Defina objetivos: teto de custo (importador) e/ou piso de preço (exportador); KPI principal = desvio mínimo do orçamento, não “ganhar com derivativos”.
  3. Escolha strikes e prazos: parta do orçamento (pior aceitável / break-even) e alinhe aos marcos operacionais; prefira buckets em vez de um único vencimento.
  4. Cote em 2–3 instituições: peça memória de preço (vol implícita, curva de juros, data de fixação, base PTAX/spot) e compare prêmios equivalentes.
  5. Implemente governança: política escrita, limites de VaR, testes de estresse, rotina de roll trimestral, documentação para auditoria (hedge accounting quando aplicável).
  6. Reporte dual: exiba cenário com hedge vs. sem hedge no DRE/fluxo de caixa e o impacto no orçamento.

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FAQ — perguntas rápidas

Opções são caras?

Dependem da volatilidade e do prazo. Em janelas de vol. alta, o prêmio sobe. Mesmo assim, o custo deve ser comparado ao risco de orçamento que você elimina e ao upside preservado em relação ao NDF.

É melhor comprar opção ou fazer collar de custo zero?

Se você valoriza liberdade total para capturar o cenário favorável, a opção simples é mais alinhada (paga-se prêmio). Se o orçamento não comporta prêmio, o collar pode ser adequado — com a consciência de que limita o upside.

Qual a diferença entre usar PTAX e spot?

PTAX é a média oficial do dia (com metodologia própria) e costuma ser a base de liquidação de derivativos; spot é o preço de tela no momento. Se sua precificação comercial usa spot, mapeie a base para evitar diferenças.

Posso cobrir 100% da minha exposição?

Cubra a parte firme (contratada). Para a parte provável, use percentuais progressivos ou instrumentos com liquidez para ajustar. Evite over-hedge.

Como explico o resultado das opções na diretoria?

Mostre o orçamento protegido e o upside preservado. Relate prêmio, taxa de ruptura (strike), impacto em margem e o comparativo com NDF.

Conclusão

Teto e piso simples são a forma mais direta de transformar incerteza cambial em previsibilidade orçamentária com opcionalidade. Em vez de travar toda a taxa (NDF), você compra um seguro que garante o pior cenário e mantém o melhor. Com governança, buckets e cotação competitiva, essas estruturas reduzem o desvio do orçamento, protegem a margem e sustentam decisões de CAPEX sem engessar sua estratégia comercial.

Conteúdo educativo; exemplos são ilustrativos e não constituem recomendação financeira, jurídica ou contábil. Compare custos, riscos e prazos e consulte assessores qualificados antes de contratar operações.

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Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.