NDF: quando usar e como cotar

O que é NDF, quando faz sentido, como é a cotação (spot, pontos a termo e carry), como fechar e integrar ao hedge por buckets 30/90/180/360.

Oct 29, 2025 - 19:49
Oct 28, 2025 - 22:53
 0  2
NDF: quando usar e como cotar

NDF: quando usar e como cotar

Tempo de leitura: 15 min

Resumo executivo

O NDF (Non-Deliverable Forward) é um contrato a termo de câmbio sem entrega física do dólar (ou de outra moeda). Na data de liquidação, as partes compensam em reais a diferença entre a taxa contratada e uma taxa de referência (geralmente PTAX de fechamento). É o instrumento mais usado para travar a taxa de câmbio de curto e médio prazos, especialmente em buckets 30/90. A seguir, quando usar (importadores/exportadores), como cotar (spot, pontos a termo e carry), como executar e os cuidados de governança (IFRS 9, base de liquidação, janelas e limites).

O que é NDF (em 1 minuto)

  • Natureza: contrato financeiro que “trava” uma taxa de câmbio futura e liquida por diferença em BRL.
  • Base de liquidação: normalmente a PTAX de fechamento do dia útil anterior à liquidação (ou outra base acordada).
  • Sem entrega de moeda: não há compra/venda de dólar físico. Apenas acerto de diferenças.
  • Prazo típico: de 7 a 360 dias, com concentrações em 30/60/90. Pode ser escalonado (vários vencimentos).
  • Objetivo: transformar a incerteza de câmbio em preço conhecido para proteger margem e caixa.

Quando usar NDF

Importadores (exposição negativa em USD)

Se a sua empresa tem custos em dólar (insumos, frete, estoque importado) e receita em BRL, o risco é o dólar subir. Usar NDF nos buckets 30/60/90 ajuda a travar a taxa de reposição/embarque e manter a margem dentro do corredor.

  • Exposição firme: pedidos embarcados ou faturas (Invoice/BL) → NDF/termo é “casamento natural”.
  • Lead time curto: travar 30/60 e rolar conforme a operação evolui.
  • Política de preços: alinhar com bandas (piso/teto) e defasagem no comercial para não “desfazer” o hedge.

Benefício: previsibilidade de CMV e menor CFaR (Cash Flow at Risk).

Exportadores (exposição positiva em USD)

Se a receita é majoritariamente em USD e custos são em BRL, o risco é o dólar cair. O NDF garante taxa mínima em BRL para o recebimento futuro, derrubando a volatilidade de margem.

  • Recebíveis firmes: travar NDF 30/60/90 sobre contratos de exportação.
  • ACC/ACE: combinar adiantamentos com NDF para casar prazo e custo.

Benefício: previsibilidade de BRL/ton (ou BRL/unidade) e proteção de orçamento.

Quando considerar outros instrumentos

  • Entrega física necessária: Termo deliverable (casado ao BL/Invoice) ou contrato de câmbio spot a liquidar na data.
  • Você quer preservar upside: use opções (put/call) ou colares nos buckets 180/360. NDF “trava tudo”.
  • Desalinhamento de indexador/dívida: swap (CDI↔USD, IPCA↔USD) para consertar a base do passivo (ALM).

Como cotar um NDF (sem mistério)

A cotação de NDF parte de três blocos: taxa spot (ou referência do dia), pontos a termo (o “carry”, que reflete o diferencial de juros) e spread da instituição financeira (margem/risco). Em forma simplificada:

Taxa NDF ≈ Spot (ou PTAX referência) + Pontos a termo (diferencial de juros) ± Ajustes de pricing e spread

1) Spot / PTAX de referência

É a taxa de câmbio de hoje. Em NDF, a liquidação por diferença usa normalmente a PTAX de fechamento como taxa “de comparação” no vencimento. Na contratação, a mesa parte da cotação corrente (spot) para projetar a taxa futura.

2) Pontos a termo (o “carry”)

Representam o diferencial de juros entre as moedas até o vencimento. Se o juro em BRL é maior que em USD, o forward (NDF) tenderá a ficar acima do spot (dólar a termo mais caro em BRL). Quanto maior o prazo e o diferencial de juros, maiores os pontos.

3) Spread da instituição

É o “preço” da liquidez e do risco de crédito/operacional embutido pela contraparte. Em empresas com relacionamento/garantias e bom histórico, esse spread costuma ser mais apertado.

4) Base e janelas

  • Base de liquidação: confirme no Term Sheet se é PTAX de fechamento D-1 (padrão) ou outra referência.
  • Horário de corte: combine a hora limite para fechar (muitas mesas usam cut-off no meio/fim da tarde).
  • Calendário: observe feriados BRL/USD para não “cair” em data ruim.

Passo a passo para fechar (e não se enrolar)

  1. Mapeie a exposição líquida por bucket 30/90/180/360 e diferencie firmes (PO/Invoice) de prováveis (pipeline com histórico).
  2. Defina a meta de cobertura por janela (ex.: 80–100% no 30; 60–80% no 90), de preferência em faixas, não em pontos fixos.
  3. Solicite cotações a 2–3 instituições; peça taxa, base (PTAX D-1?), spread e custo de rolagem se houver.
  4. Feche em janela (ex.: entre 14h e 16h), para evitar dispersão. Documente hora, taxa, vencimento, notional e a finalidade de hedge.
  5. Integre ao comercial: espelhe o NDF nas bandas de preço (piso/teto/repasse). Sem esse espelho, você “perde” o benefício do hedge no D+1.
  6. Backoffice: confira boletos/nota de corretagem, cadastros e reconcilie marcação a mercado.

Exemplos rápidos (números ilustrativos)

Importador – reposição em 60 dias

Spot USD/BRL 5,20; pontos a termo +0,08; spread +0,02 → NDF 60 = 5,30. Se, no vencimento, a PTAX D-1 sai a 5,45, o banco te paga 0,15 por USD nocional; se sair a 5,10, você paga 0,20. O estoque “casa” com a taxa travada na reposição.

Exportador – recebíveis em 30 dias

Spot 5,20; pontos +0,04; spread +0,01 → NDF 30 = 5,25. Se a PTAX D-1 for 5,12, você recebe 0,13 por USD (compensando a queda); se for 5,38, paga 0,13 (mas sua receita em BRL aumentou). Margem estabilizada.

Hedge accounting (IFRS 9) em 5 linhas

  • Objetivo: proteger fluxos altamente prováveis (compras/vendas em moeda).
  • Designação: documente relação item vs. instrumento, metodologia e eficácia (prospectiva/retrospectiva).
  • Contabilização: mudanças no valor do NDF podem ir a outros resultados abrangentes ao invés do resultado (reduz “serrote” contábil).
  • Base de comparação: descreva e monitore basis risk (PTAX vs. spot vs. preço de venda).

Política por buckets (30/90/180/360): o lugar do NDF

O NDF brilha no curto/médio prazo (30/60/90), onde exposição é mais “visível” e o carry (pontos) é mais previsível. Em 180/360, considerar opções (puts/calls/colares) para preservar upside de orçamento.

Janela Exposição típica Instrumentos preferidos Meta (faixa)
30 dias Pedidos/embarques firmes NDF / Termo deliverable 80–100%
60–90 dias Reposição/recebíveis confirmados NDF escalonado 60–80%
180 dias Produção prevista / orçamento Colar (put+call) 40–60%
360 dias Orçamento anual Opções / mix com NDF 20–40%

Cuidados e armadilhas (para não aprender do jeito caro)

  • Base errada: contratar NDF e precificar venda pelo spot do dia pode gerar basis inesperado. Alinhe a base de formação de preço (ex.: PTAX média vs. fechamento).
  • Over-hedge: travar 100% e depois faturar em USD adicional → vira posição direcional. Cubra a exposição líquida e atualize os buckets.
  • Concentração de vencimentos: muitos NDFs no mesmo dia = risco de liquidez. Espalhe os vencimentos.
  • Esquecer do carry: pontos a termo são custo/benefício do prazo; simule alternativas (encurtar/alongar, escalonar).
  • Falta de governança: sem política e comitê de decisões, a tesouraria vira “palpite”.

FAQ rápido

NDF e termo são a mesma coisa?

Na prática, ambos “travam” a taxa. A diferença é que o NDF liquida por diferença em BRL, sem entrega de moeda. O termo deliverable envolve delivery e pode ser casado com BL/Invoice.

Posso fechar “zero-cost” com NDF?

“Zero-cost” é termo de opções (financiar um prêmio vendendo outra opção). Em NDF, não há prêmio; há taxa contratada que já incorpora carry e spread.

Qual é a melhor janela para NDF?

Onde a exposição é mais firme e o carry faz sentido — tipicamente 30/60/90. Em janelas longas, considere opções para preservar upside.

NDF “dá lucro”?

NDF é seguro de preço. “Lucro” ou “prejuízo” no derivativo deve ser lido junto com o negócio protegido. O KPI é a margem consolidada no corredor, não o PnL isolado do NDF.

Ferramentas GX para levar à prática

🌎 Simular perda marginal e buckets (30/90/180/360) 💵 Avaliar FX Loan x BRL com NDF 💠 Comparar CET por instrumento (NDF/termo/opções)

Nota

Conteúdo educativo; exemplos são ilustrativos. Avalie efeitos tributários, contratuais e contábeis com seus assessores.

Qual é a Sua Reação?

Like Like 0
Não Curtir Não Curtir 0
Love Love 0
Engraçado Engraçado 0
Irritado Irritado 0
Triste Triste 0
Uau Uau 0
Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.