Hedge: NDF, termo, swap e opções — o que muda na prática

Diferenças práticas entre NDF, termo, swap e opções; efeitos no caixa e no P&L; e um playbook por buckets para 2026.

Oct 22, 2025 - 19:09
Oct 22, 2025 - 17:46
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Hedge: NDF, termo, swap e opções — o que muda na prática

Hedge: NDF, termo, swap e opções — o que muda na prática

Tempo de leitura: 22 min 

Resumo executivo: hedge é engenharia de previsibilidade, não aposta

NDF, termo, swap e opções são ferramentas para transformar volatilidade cambial em previsibilidade de margem e caixa. O “melhor” instrumento depende do prazo (30/90/180/360 dias), da qualidade da exposição (firme vs. provável), do orçamento de risco (VaR/CFaR), de exigências de colateral e da contabilidade (IFRS 9). Este guia destrincha cada instrumento, compara efeitos práticos e entrega um passo a passo para sair do improviso e rodar uma política de hedge repetível.

Mapa rápido dos instrumentos

NDF (Non-Deliverable Forward)

O que é: contrato a termo de câmbio com liquidação financeira. Na data, a diferença entre o preço contratado e a taxa de referência é paga/recebida em moeda local. Vantagens: simplicidade, liquidez, prazos flexíveis, sem logística de moeda. Cuidados: marcação a mercado, eventuais chamadas de margem bilaterais em algumas instituições, e custo de carry embutido.

Termo (deliverable)

O que é: contrato de câmbio com entrega física da moeda no vencimento. Vantagens: casa naturalmente com faturas de importação/exportação e liquida o principal da operação. Cuidados: necessidade de documentação cambial, janelas de liquidação e eventual custo de antecipação/prorrogação.

Swap de moedas/índices

O que é: troca de indexadores (ex.: pague CDI e receba USD ou vice-versa). Vantagens: ajusta a “base” do passivo/ativo sem alterar contrato principal; útil para FX loan e dívidas em BRL/CDI. Cuidados: marcação a mercado (MtM), chamadas de margem, documentação (ISDA/CSA local).

Opções (vanilla e estruturas)

O que é: direito, não obrigação, de comprar/vender moeda a um preço (strike). Vantagens: proteção contra extremos com preservação de upside; excelente para orçamentos e projetos. Cuidados: prêmio pago (ou custo de estruturas “zero-cost”), theta (decadência do valor no tempo), liquidez para prazos longos.

Preço, carry, rolldown e impacto no caixa

Todo hedge tem quatro componentes práticos:

  1. Preço (forward/strike): depende do diferencial de juros Brasil vs. exterior e, no caso de opções, da volatilidade implícita.
  2. Carry: custo/receita de “carregar” a posição. Importadores “pagam carry” para comprar USD a termo; exportadores tendem a “receber carry”.
  3. Rolldown: ganho/perda por “descer a curva” ao rolar de 180 para 90, 90 para 30 etc., se nada mais mudar.
  4. Caixa: premium (opções) e calls de margem (futuros/swaps) afetam o timing do caixa e covenants de liquidez.

Regra de ouro: o custo “caro” de hoje pode ser o seguro barato do futuro. Julgue o hedge pelo resultado da operação + proteção, não pelo PnL isolado do derivativo.

Quando usar cada instrumento (decisões em linguagem de negócio)

NDF

  • Use quando: você precisa travar preço de curto e médio prazos (30–180 dias) com execução simples, sem lidar com entrega física.
  • Não use sozinho quando: a exposição for muito incerta (projeções pouco confiáveis) e você precise preservar upside. Combine com opções.
  • Melhores casos: importações com lead time definido, exportações faturadas, contratos de serviços externos.

Termo deliverable

  • Use quando:fatura/documento e necessidade de liquidar moeda. Ideal para “casadinho” com embarques (Incoterms claros).
  • Não use quando: a exposição é só econômica (sem liquidação de moeda) ou há risco alto de cancelamento.
  • Melhores casos: importadores/exportadores com operações recorrentes e disciplina documental.

Swap

  • Use quando: seu passivo/ativo está no indexador errado (ex.: dívida CDI vs. receita USD) e você quer trocar a base sem renegociar contrato.
  • Não use quando: a dor é apenas de nível de taxa (prefira NDF/termo) ou quando a tesouraria não pode gerenciar margin calls.
  • Melhores casos: FX loan com hedge, captações em BRL convertidas para USD, ALM de contratos longos.

Opções

  • Use quando: precisa de faixa de orçamento (teto/piso) e quer preservar algum upside. Útil em 180/360 dias e lançamentos de produtos.
  • Não use quando: não há orçamento para prêmio e a política não permite estruturas sintéticas.
  • Melhores casos: exportadores com pipeline provável, importadores com repasse parcial ao cliente, M&A com preços-alvo em BRL.

Contabilidade (IFRS 9) sem sofrimento

Para evitar “montanha-russa” contábil, planeje hedge de fluxo de caixa (cash flow hedge): documente item protegido (compra/venda altamente provável), instrumento (NDF/opções), método de eficácia (prospectivo/retrospectivo) e a forma de contabilizar a ineficácia. Em swaps, atenção à hedge de valor justo quando a dor for o índice do passivo. Sem documentação, a marcação do derivativo irá direto ao resultado, muitas vezes descolada da operação real.

Liquidez, garantias e risco de contraparte

  • Futuros e alguns swaps exigem colateral diário (chamadas de margem). Teste a capacidade de liquidez do caixa para suportar stress.
  • NDF/termo em balcão normalmente usam limites de crédito com o banco; negocie thresholds, MTAs e CSA se aplicável.
  • Em opções, o prêmio é upfront (ou sem desembolso líquido em colares “zero-cost”, com riscos assimétricos). Tenha uma régua de tamanho por contraparte e limites setoriais.

Checklist operacional: do pedido ao contrato

  1. Classifique a exposição (firme vs. provável) por bucket (30/90/180/360).
  2. Escolha instrumento coerente com o objetivo (liquidar moeda, travar preço, trocar indexador, criar faixa).
  3. Defina metas de cobertura por bucket (ex.: 80–100% firmes em 30d; 60–80% em 90d; 40–60% em 180d; 20–40% em 360d).
  4. Propostas com timestamp e base de taxa idêntica (PTAX/closing), spread claro e custo total (taxas, IOF, fee).
  5. Backoffice: conferência, confirmação, arquivo de contratos, conciliação, testes de eficácia (se hedge accounting).

Comparativo lado a lado (o que realmente muda)

Instrumento Liquidação Colateral Preserva upside? Melhor uso
NDF Financeira (BRL) Normalmente via limite bancário Não Curto/médio prazo sem entrega de moeda
Termo deliverable Física (USD/EUR) Limite + docs Não Fatura com liquidação de principal
Swap Financeira (indexadores) Pode ter margem Não Trocar base de dívida/ativo
Opções Financeira ou física Prêmio/colateral conforme estrutura Sim (parcial/total) Faixa de orçamento e extremos

Tradução por perfil: importador, exportador e empresa “mista”

Importador líquido (USD passivo)

Dor: alta do dólar corrói margem; repasse parcial e defasado. Estratégia: NDF mensal para 30/90 dias; colares em 180/360 para criar teto; termo deliverable onde houver fatura; swaps se houver dívida CDI a “dolarizar”. Gatilhos: banda do orçamento (+/−3%); eventos (Copom, payroll) elevam cobertura temporariamente.

Exportador líquido (USD ativo)

Dor: dólar baixo reduz receita BRL; integridade de caixa precisa previsibilidade. Estratégia: venda de USD por NDF 30/90; ACC/ACE para suavizar caixa; opções de venda (puts) 180/360 com ou sem financiamento; carry positivo ajuda a reduzir custo.

Empresa mista (receitas USD, custos BRL, dívida CDI)

Dor: desalinhamento de bases. Estratégia: swap CDI→USD para parte da dívida; NDFs de venda de USD casados com recebíveis; buffer de caixa em USD para 60 dias de folha e Opex crítico; opções para faixas de orçamento.

Casos sintéticos (com números redondos para enxergar o efeito)

Caso 1 — NDF para importador

Empresa compra USD 1,5 milhão por mês; orçamento a 5,20. NDF a 3 meses sai a 5,28. Se o spot for 5,50 no vencimento, o NDF devolve 0,22 por dólar e a compra efetiva fica próxima a 5,28 (menos custos). Sem hedge, a margem cairia 4,2% no trimestre.

Caso 2 — Colar (opções) para exportador

Exportador quer BRL por tonelada entre 5,00 e 5,60. Compra put 5,00 e vende call 5,60, prêmio líquido próximo de zero. Se o dólar afundar a 4,80, a put garante 5,00; se subir a 5,90, a call limita a 5,60 (perde upside, ganha previsibilidade).

Caso 3 — Swap CDI↔USD para dívida

Dívida de BRL 100 mi a CDI + 1,5% a.a.; receita USD estável. Swap transforma parte (BRL 50 mi) em obrigação “atrelada ao USD” (pague USD, receba CDI). Resultado: menor basis risk e ALM mais alinhado, com MtM gerenciável.

Playbook 30/90/180/360: da política à execução

Em 30 dias

  • Mapeie exposições por moeda; classifique em firmes e prováveis.
  • Defina metas de cobertura por bucket e instrumentos permitidos (NDF, termo, swap, opções).
  • Implemente piloto com NDFs nos buckets 30/90; crie relatórios de aderência e PnL de hedge.

Em 90 dias

  • Inclua opções para 180/360 (colar/corredor); documente hedge accounting para reduzir volatilidade contábil.
  • Negocie limites/CSA com contrapartes e padronize ISDA/contratos.
  • Integre comitê de preços (compras/comercial) com bandas de repasse.

Em 180 dias

  • Teste swaps para alinhar base de passivos/ativos; crie fluxos de margin dedicados.
  • Otimize carry/rolldown com ordens escalonadas e calendário de rolagem.
  • Revise KPIs: margem no corredor, CFaR 12m, aderência ≥ 85% das metas por bucket.

Em 360 dias

  • Amadureça a política anual; adicione buckets 12–24 meses se a previsibilidade permitir.
  • Integre com funding (FX loan vs. BRL com swap) e com duration de caixa.
  • Audite eficácia (econômica e contábil) e ajuste limites por contraparte/setor.

▶ Simular NDF/termo/opções por bucket (perda marginal)

🌎 Avaliar FX Loan vs. BRL com swap de moedas

💠 Comparar CET por indexador (CDI × IPCA+ × USD)

Erros comuns e antídotos em uma linha

  • Hedge como aposta direcional → foque na margem consolidada, não no PnL do derivativo.
  • Over-hedge (proteção acima da exposição) → cubra firmes 1º; probabilísticas com percentuais menores.
  • Concentrar instrumento → combine NDF/termo no curto, opções no médio, swaps para base.
  • Ignorar carry/rolldown → calendário de rolagem e ordens por degraus reduzem custo médio.
  • Governança fraca → política escrita, limites, contrapartes, reporting e auditoria.
  • Contabilidade sem hedge accounting → documente IFRS 9 para evitar ruído no resultado.

FAQ rápido

NDF e termo são a mesma coisa?

Não. NDF liquida a diferença em BRL (sem entrega de moeda); termo deliverable entrega USD/EUR no vencimento.

Opções são sempre caras?

O prêmio é o preço da assimetria (teto/piso). Em cenários de alta incerteza, a proteção “cara” pode salvar margem e covenants. Estruturas “zero-cost” trocam prêmio por abrir mão de parte do upside.

Swap resolve tudo?

Resolve base (indexador) de passivo/ativo. Para travar preço de compra/venda, NDF/termo seguem essenciais.

Preciso de hedge accounting?

Não é obrigatório, mas reduz volatilidade contábil. Se previsibilidade de P&L importa, vale implementar.

Qual é o “melhor” instrumento?

O que encaixa no objetivo, no prazo, no caixa e na governança da empresa. Muitas vezes, é um mix.

Conclusão: o mix certo compra tempo — e tempo compra valor

NDF, termo, swap e opções são peças de um mesmo quebra-cabeça: previsibilidade. O mix adequado por bucket, com metas de cobertura, gatilhos e integração a compras/comercial/finanças, reduz variância de margem, estabiliza o CET do funding e aumenta a confiança de credores e investidores. Em 2026, quem profissionalizar o hedge vai competir por preço e prazo — e não por sorte.

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Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.