Erro comum no hedge: confundir opinião sobre dólar com política de proteção
Como desenhar política de hedge baseada em CFaR e buckets (30/90/180/360), integrando bandas comerciais e ALM — sem “chutar” o dólar.
Tempo de leitura: 22 min
O erro mais caro em gestão cambial é substituir política de hedge por opinião sobre o dólar. “Vai cair, segura”; “vai subir, trava tudo” — frases assim transformam o P&L em roleta. Política, por outro lado, cria regras replicáveis que protegem margem, caixa e covenants, independente do humor do mercado. Este artigo mostra como desenhar uma política orientada a CFaR (Cash Flow at Risk), distribuir cobertura por buckets 30/90/180/360, integrar bandas comerciais (piso/teto/repasse) e escolher instrumentos (NDF, termo, swaps, opções) sem confundir trading com gestão de risco.
Uma política de hedge é um conjunto de regras permanentes que define o quê, quanto, como e quando proteger. Ela:
O que ela não é: uma coleção de calls de curto prazo, timing, apostas em eleições ou em “rompimento técnico”. Opiniões podem ajustar tática dentro da regra; nunca substituir a regra.
Cash Flow at Risk estima o pior caso razoável de caixa/margem em janelas definidas. Em vez de “dólar vai a 6?”, a pergunta correta é: “Se USD/BRL mexer ±5%/±10%, qual o impacto no meu caixa e na minha margem por cliente/produto?” Uma política sólida define:
Divida o horizonte em 30/90/180/360 e classifique fluxos em firmes (PO, Invoice, vendas fechadas) e prováveis (pipeline com histórico). Ex.: exportador com USD a receber em 30/60 e custos USD de frete em 45/90; importador com compras confirmadas para 60/120. A política define metas por bucket, p.ex.:
O resto não é “chute”: é flex para aproveitar janelas, sempre dentro de limites.
Caso clássico de confusão: tesouraria “trava dólar” e o comercial reprecifica com defasagem imprevisível — mata a eficácia do hedge. Solução:
O que é: trava o preço futuro; simples e líquido. Para quem: buckets 30/90 e fluxos firmes. Riscos: base (PTAX x spot), horário, over-hedge.
O que é: contrato com entrega física, casado ao BL/Invoice. Para quem: embarques; reduz basis risk.
O que é: compra de assimetria: assegura piso/teto de BRL com upside parcial. Para quem: buckets 180/360 (orçamento). Cuidados: prêmio; estruturas “zero-cost” vendem parte do upside (entenda a troca).
O que é: troca de bases (CDI↔USD, IPCA↔USD). Para quem: desalinhamento de passivo/ativo (ALM). Cuidados: marcação a mercado e margin.
Sem Asset-Liability Management, a empresa acha que “hedgeou o dólar”, mas a volatilidade volta pelo indexador da dívida. Regras:
Erro comum: “USD vai subir, segura o hedge”. Resultado: queda súbita do USD pressiona BRL/tonalagem; perde margem. Política: 30/60 80–100% NDF; 180 colar (put 5,00/call 5,60) para orçamento; banda comercial 5,00–5,40 com repasse 50% fora. Efeito: margem no corredor, CFaR estabilizado.
Erro comum: “USD vai cair, não trava”. USD sobe 8% e estoque gira com preço antigo; loss no trimestre. Política: 30/90 com NDF para reposição; 180 call spread (5,30/5,70) para teto orçamentário; cláusulas de repasse com defasagem de 15 dias. Efeito: previsibilidade e redução de stock losses.
Erro comum: hedgear só a receita; CDI dispara e DSCR pinga. Política: swap CDI→USD em 50% do passivo; colares 360 para BRL/ton; ACC/ACE para caixa. Efeito: DSCR > 1,35x; spread renegociado.
Você pode — mas que seja dentro da faixa de cobertura e limite de CFaR. “Esperar” fora da política é aposta, não gestão.
Compram assimetria. Em colares financiados (vender parte do upside), o prêmio pode ir a ~zero. Útil no 180/360 para orçamento.
Não. Você “paga” com obrigação (put vendida) ou cap de upside. Entenda a troca e limite tamanho.
Atualize buckets rolling e use percentuais sobre a exposição líquida, não sobre o volume total.
Não para começar. Cenários ±5%/±10% já dão ordem de grandeza. Evolua com histórico, volatilidade implícita e stress baseado em eventos.
Opinião de mercado é insumo, não estratégia. Uma política que prioriza exposição líquida, CFaR, bandas comerciais e ALM entrega margens estáveis, spreads menores e menos conversas traumáticas com clientes e credores. Em 2026, a vantagem competitiva não será “acertar o câmbio”, e sim converter volatilidade em processo.
▶ Medir CFaR e montar faixas por bucket🌎 Comparar FX Loan vs. BRL com swaps💠 Ver efeito no CET por cenário de hedge
Erro comum no hedge: confundir opinião sobre dólar com política de proteção
Resumo executivo: opinião não paga boleto, política paga
Diagnóstico: 8 sinais de que sua empresa está “apostando” sem perceber
Princípios: o que é uma política de hedge (e o que ela não é)
CFaR: a métrica que tira a emoção da mesa
Exposição líquida por buckets: a espinha dorsal
Bandas comerciais: sem espelho financeiro, o hedge evapora
Instrumentos: o mínimo viável para não confundir seguro com aposta
NDF / Termo
Termo deliverable
Opções (puts/calls/colares)
Swaps
ALM: casar o passivo para não pagar juro e volatilidade à toa
Casos sintéticos: como a política evita “palpites caros”
Exportador de proteína (receita USD, custos mistos)
Importador de eletrônicos (custo USD, venda BRL)
Agroindustrial com dívida CDI e receita USD
KPIs e ritos de governança (para não voltar ao palpite)
Playbook 30/90/180/360 para sair do improviso
Em 30 dias
Em 90 dias
Em 180 dias
Em 360 dias
Erros clássicos (e o antídoto de uma linha)
FAQ rápido
Posso “esperar um pouco” para travar melhor?
Opções são caras, vale a pena?
Zero-cost é de graça?
Como evitar over-hedge?
CFaR precisa de modelo sofisticado?
Conclusão: pare de “chutar dólar”; construa previsibilidade
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