Hedge natural: o que é e quando funciona
Guia prático para CFOs e tesourarias com critérios de eficácia, KPIs, armadilhas, exemplos e playbook para institucionalizar o hedge natural.
Linha editorial: Câmbio & Trade Finance / GX Explica | Tempo de leitura: 14 min
Hedge natural é a proteção cambial obtida sem derivativos, quando receitas, custos e dívidas estão na mesma moeda (ou altamente correlacionadas). Em tese, se você vende em USD e paga insumos e dívidas em USD, a oscilação do câmbio “cancela” no resultado. Na prática, o hedge natural só funciona se houver sincronismo (datas), magnitude comparável (valores), indexadores compatíveis (base de precificação) e elasticidade de preço que permita repasse. Este guia mostra como diagnosticar seu hedge natural, quais KPIs acompanhar (ex.: match ratio, mark-to-budget), armadilhas comuns (base PTAX vs. spot, prazos e crédito a clientes) e quando complementar com NDF, termo ou opções. Traz também um playbook de 90–180 dias e CTAs para simular impacto do dólar na margem e comparar fontes de financiamento.
Hedge natural ocorre quando fluxos em moeda estrangeira se compensam entre si — sem contratos de derivativos. A combinação típica é:
O objetivo é reduzir o desvio do orçamento causado pelo câmbio, suavizando a margem/EBITDA. Diferente de “não fazer hedge”, o hedge natural é uma estratégia documentada, com métricas e limites.
Quatro requisitos aumentam muito a eficácia:
Regra de bolso: hedge natural é ótimo para variabilidade moderada e insuficiente em choques. Para caudas (BRL 6,20, por exemplo), complemente com derivativos.
Empresa vende 1,0 milhão USD/mês e importa insumos de 0,7 milhão USD/mês; dívida em USD com serviço de 0,2 milhão USD/mês. Match ratio ≈ 1,0/0,9 = 1,11. Datas: recebimentos D+30 e pagamentos D+30; base: PTAX D-1 em ambos. Resultado: hedge natural robusto; derivativos apenas para caudas.
Compra 0,5 milhão USD/mês; vendas em BRL com tabela mensal indexada a PTAX. Recebíveis D+28; pagamentos D+7. Existe gap temporal: considerar NDF de curto prazo para cobrir a diferença e garantir orçamento.
Dívida em USD a CDI+spread ou SOFR+spread, receitas 100% BRL, sem indexação. Não há hedge natural. Se a dívida em USD foi tomada por custo aparente menor, a empresa assumiu risco de solvência em choque de câmbio. Correção: migrar parte para BRL, usar swaps ou construir receita em USD.
Mesmo com hedge natural, derivativos podem ser usados para fechar lacunas (tempo/base/magnitude) e para proteger caudas (eventos extremos). Ferramentas:
🌎 Medir impacto do USD na margem 💠 Calcular CET com/sem dívida USD
Documente em contratos as regras de formação de preço (PTAX de qual dia? Janela de fixação? Spread de logística?) e gatilhos de reajuste. Para exportação, alinhe INCOTERMS, base de frete e seguros; para importação, padronize lead time e datas de invoice/BL. Quanto mais padronizado, menor o ruído e maior a eficácia do hedge natural.
Se você tem receita natural em USD, financiar em USD (parcialmente) pode fazer sentido — o serviço da dívida passa a ser coberto pela própria receita, reduzindo volatilidade do DSCR. Mas evite “dolarizar por dolarizar”: meça o match real e garanta cláusulas de pré-pagamento flexíveis caso o ciclo mude. Em CAPEX importado, tratar cada marco (entrada, entrega, comissionamento) como um bucket ajuda a manter o sincronismo.
🔬 Simular perda marginal de câmbio 💵 FX Loan — viabilidade USD vs. BRL 🧮 Aurum — CET comparativo
Não sempre. Ele reduz exposição média; derivativos cobrem gaps de calendário/base e caudas. O melhor resultado costuma ser a combinação.
Funciona se a receita for estável, datas alinhadas e base compatível. Volatilidade de volume/preço pode quebrar o match; use metas e limites.
Apresente KPIs (match ratio, gaps, base), política escrita, relatórios mensais e cenários com/sem derivativos. Mensuração dá credibilidade.
Sim. O princípio é o mesmo, desde que exista match econômico e contratos padronizados. Atenção a liquidez e custos de derivativos de complemento.
Desvio mínimo do orçamento de margem/EBITDA por variação de câmbio, combinado a cumprimento de covenants.
Hedge natural: o que é e quando funciona (de verdade) para proteger sua margem
Resumo executivo
Definição operacional: o que é hedge natural?
Quando ele funciona (critérios técnicos)
Quando ele não funciona (sinais de falsa segurança)
KPIs para medir hedge natural
Exemplos práticos (ilustrativos)
Exportador com custos dolarizados (caso “forte”)
Importador com lista de preços indexada (caso “médio”)
Dívida em USD sem hedge natural (caso “fraco”)
Hedge natural x derivativos: complementar, não “ou/ou”
Contratos e base: como padronizar para evitar “vazamento”
Integração com crédito e CAPEX
Armadilhas comuns e como evitá-las
Playbook de 90–180 dias para institucionalizar o hedge natural
FAQ — perguntas rápidas
Hedge natural dispensa derivativos?
Dívida em USD sempre é hedge natural para exportador?
Como convencer o conselho de que “hedge natural” é sério?
Hedge natural é válido para EUR, CNY e outras moedas?
Qual é a régua de sucesso?
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