Termo de câmbio: passo a passo
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Resumo executivo
O termo de câmbio é o contrato que trava hoje uma taxa para comprar ou vender moeda em uma data futura, com entrega física de divisas vinculada a uma operação de comércio exterior (ex.: importação com BL/Invoice ou exportação com fatura/embarque). Diferente do NDF, que liquida por diferença em reais, o termo é “deliverable”: na liquidação há troca de moedas. A seguir, um passo a passo completo para: decidir quando usar, cotação (spot, pontos a termo, carry e spread), documentos e prazos, integração a ACC/ACE, combinação com NDF/opções e um playbook de governança (buckets 30/90/180/360) para não transformar hedge em aposta.
Termo deliverable x NDF: qual usar em cada caso?
- Termo deliverable (objeto deste guia): compra/venda de moeda com entrega física na data combinada. Normalmente casado com documentos de comércio exterior (Invoice, BL/AWB, DI/DU-E). Ideal quando você precisa efetivamente da moeda para pagar/importar ou para liquidar receitas de exportação.
- NDF (Non-Deliverable Forward): contrato financeiro que não entrega moeda; no vencimento, as partes acertam a diferença entre a taxa contratada e a referência (muitas vezes PTAX). Útil quando a exposição é econômica (preço em BRL) ou quando não há necessidade de dólar físico.
Regra prática: precisa da moeda? Use termo deliverable. Quer apenas estabilizar preço/resultado em BRL? Avalie NDF ou opções.
Quando o termo faz mais sentido
Importadores
- Exposição firme: pedidos confirmados, embarque próximo, Invoice/BL emitidos.
- Lead time curto: 30/60/90 dias; o termo encaixa com a data de fechamento do câmbio para pagamento.
- Política de preços: casado a bandas (piso/teto) e a defasagem de repasse no comercial para manter margem.
Exportadores
- Receita em USD com conversão obrigatória (liquidação em BRL): usar termo de venda de moeda no recebimento.
- ACC/ACE: termo pode ser casado ao adiantamento para fixar a taxa de conversão do fluxo futuro.
Como se cota um termo de câmbio (sem mistério)
A taxa do termo resulta de três blocos:
- Spot (ou taxa de referência do dia): preço à vista USD/BRL.
- Pontos a termo (carry): refletem o diferencial de juros BRL × USD no período. Quanto maior o prazo/diferencial, maior a distância entre termo e spot.
- Spread da instituição: remuneração de risco, capital e operacional, ajustada por relacionamento e garantias.
Taxa do termo ≈ Spot + Pontos a termo (carry) ± ajustes técnicos + spread
Dica: sempre peça a decomposição (spot, pontos e spread) e a base de liquidação contratual.
Documentos, prazos e fluxo operacional
- Habilitação e cadastro: garanta cadastro ativo com seu banco/corretora; mantenha KYC e limites de crédito atualizados.
- Term Sheet: defina moeda, notional, data de liquidação, taxa, par (USD/BRL), tipo (compra ou venda), spread, prazos de documentação e condições de entrega.
- Documentos de comércio exterior: Invoice (fatura), BL/AWB (embarque), DI/DU-E, contratos e demais comprovantes. Eles “amarram” a entrega de moeda no termo.
- Liquidação: no vencimento, ocorre a entrega de moeda (compra ou venda) e o registro no sistema cambial. Coordene com o fechamento do câmbio (pagamento de importação ou conversão de exportação).
- Backoffice: confira notas, boletos, impostos e concilie a operação (inclusive marcação a mercado na contabilidade, se aplicável).
Tempo é risco: alinhe os cut-offs de horário, feriados e a janela de envio de documentos para não cair em data ruim.
Integração com ACC/ACE, NDF e opções
- ACC/ACE (adiantamentos): travam o financiamento; combine com termo de venda para garantir a taxa de conversão no recebimento.
- NDF: útil para proteger orçamentos quando a entrega de moeda ainda não está certa. No embarque/Invoice, você pode substituir (ou complementar) com termo deliverable.
- Opções (put/call/colar): preservam upside. Para importador, um colar define piso/teto de custo; para exportador, put garante taxa mínima de conversão.
Boa prática: desenhe uma política de hedge com buckets 30/90/180/360 e percentuais por janela (ex.: 80–100% no 30; 60–80% no 90; 40–60% no 180; 20–40% no 360), alternando termo e opções conforme visibilidade e apetite.
Passo a passo para fechar (importador e exportador)
Importador — compra de moeda a termo
- Mapeie a exposição: valor do embarque, datas de shipment e de pagamento, condições (FOB/CIF), prazos de nacionalização.
- Solicite cotações: a 2–3 instituições, pedindo spot + pontos + spread e condições de documentação.
- Escolha a data: alinhe o vencimento do termo à data de pagamento (ou à janela de vencimentos parciais).
- Feche o termo: confirme notional, taxa, vencimento e parcializações se houver; documente no Term Sheet.
- Entregue documentos: Invoice, BL e registros de importação conforme cronograma.
- Liquide e concilie: receba a moeda no vencimento e pague o fornecedor; faça a conciliação contábil.
Exportador — venda de moeda a termo
- Mapeie os recebíveis: contratos fechados, valor por embarque, prazos de recebimento.
- Combine com ACC/ACE se precisar de financiamento antecipado.
- Negocie o termo de venda de USD no vencimento esperado do recebimento.
- Embarque e documente: fatura, DU-E e comprovantes de embarque.
- Receba o USD e liquide o termo: converta a BRL na taxa travada; concilie a operação.
Como evitar armadilhas (basis, over-hedge e liquidez)
- Basis: sua formação de preço usa spot ou PTAX média? O termo liquida na taxa contratada com entrega de moeda — alinhe a base de precificação do comercial para não perder a proteção.
- Over-hedge: não cubra 100% de um pipeline incerto. Separe exposição firme da provável. Use NDF/opções para a parte incerta.
- Concentração: muitos termos no mesmo dia podem estourar liquidez. Escalone vencimentos.
- Cut-offs e feriados: datas “ruins” podem travar a operação; valide calendário BRL/USD.
- Governança: comitê quinzenal de hedge, limites por bucket e dupla aprovação eliminam decisões emocionais.
Exemplos ilustrativos (números redondos)
Importação — reposição em 60 dias
Spot 5,20; pontos a termo +0,08; spread +0,02 → Termo 60 = 5,30. No vencimento, você compra USD a 5,30 para pagar o fornecedor. Se o spot estiver 5,45, você “ganhou previsibilidade” e pagou abaixo do mercado; se estiver 5,10, você pagou acima, mas manteve a margem planejada.
Exportação — recebível em 30 dias
Spot 5,20; pontos +0,04; spread +0,01 → Termo 30 = 5,25. Você vende USD a termo. Se no recebimento o spot for 5,12, você converte a 5,25 (acima do mercado), preservando a meta em BRL.
Contabilidade e documentação (visão rápida)
- Designação de hedge: documente a relação item x instrumento, método de eficácia e objetivo (cobrir fluxo altamente provável).
- Marcação: termos podem ter marcação a mercado para gestão/contabilidade; alinhe com auditoria.
- Arquivamento: mantenha Term Sheet, confirmações, notas, comprovantes cambiais e documentos de comércio exterior organizados.
Checklist do CFO/Tesouraria
- Exposição líquida por bucket 30/90/180/360 (firme vs. provável).
- Escolha do instrumento: termo deliverable (entrega) x NDF (diferença) x opções (upside).
- Cotações com spot, pontos e spread explícitos.
- Data do termo casada com embarque/pagamento/recebimento.
- Documentação pronta (Invoice, BL/AWB, DI/DU-E) e cut-offs de horário.
- Governança: limites por janela, dupla aprovação, relatórios de eficácia.
Playbook 30/90/180 dias
Em 30 dias
- Mapeie contratos de importação/exportação e o calendário de embarques.
- Defina metas de cobertura por bucket e o mix termo/NDF/opções.
- Habilite cadastros e limites com 2–3 instituições.
Em 90 dias
- Implemente janelas de fechamento (horário) e concorrência entre casas.
- Padronize Term Sheets e checklists de documentos.
- Crie dashboard mensal de exposição, hedge, eficácia e impacto em margem.
Em 180 dias
- Integre ACC/ACE aos termos e revise percentuais por bucket.
- Teste cenários de carry (pontos a termo) e custo de rolagem para otimizar prazos.
- Audite governança e atualize limites (no. de contratos, nocional, contrapartes).
FAQ rápido
Posso “adiantar” a liquidação?
Normalmente, sim, por acordo entre as partes (e reprecificação do termo). Consulte sua instituição para custos e procedimentos.
O que acontece se o embarque atrasa?
Negocie rolagem do termo ou ajuste de data. Evite mismatch entre documento e vencimento.
Termo tem IOF?
Operações cambiais podem envolver IOF conforme a natureza. Verifique a regra aplicável ao seu caso (importação, exportação, financeiro).
É possível reduzir o spread?
Sim: histórico, concorrência e garantias (quando cabível) comprimem preço. Fluxo frequente e governança também ajudam.