Como ler a curva DI em 5 minutos: front, belly e long-end sem economês

Aprenda a interpretar a curva DI e usar front, belly e long-end para preço, hedge e funding — com playbook prático e simuladores da GX Capital.

Oct 28, 2025 - 19:58
Oct 27, 2025 - 23:27
 0  4
Como ler a curva DI em 5 minutos: front, belly e long-end sem economês

Como ler a curva DI em 5 minutos: front, belly e long-end sem economês

Tempo de leitura: 18 min 

Resumo executivo: por que a curva DI manda no seu caixa

A curva DI é o “mapa” do preço do dinheiro no Brasil. Em um único gráfico, o mercado embute expectativas para Selic, inflação e prêmios de risco em diferentes prazos. Lendo três trechos — front (ponta curta), belly (meio) e long-end (ponta longa) — você antecipa custo de capital, decide quando alongar dívida, planeja reajustes e dimensiona hedge. Este guia transforma a curva em decisões práticas para CFOs, controllers, founders e gestores de tesouraria, sem jargões e com exemplos “pé no chão”.

O que é a curva DI, sem economês

DI é o contrato futuro de Depósitos Interfinanceiros negociado na B3. Cada vencimento (p.ex., Jan/26, Jan/27, Jan/29) representa a taxa média anualizada do CDI que o mercado espera entre hoje e aquela data. Se o mercado acha que a Selic vai cair/subir, o preço dos DIs ajusta na hora. Por isso, a curva DI é a melhor fotografia pública, contínua e negociável da expectativa de juros no Brasil.

Convém separar a curva em três blocos: front (0 a 12 meses), mais colado às próximas decisões do Copom e à inflação corrente; belly (aprox. 18 a 48 meses), onde o mercado discute a “taxa terminal” do ciclo; e long-end (5 a 10+ anos), onde moram os prêmios estruturais (fiscal, institucional, produtividade, risco externo). Essa divisão não é rígida, mas funciona bem para decisões do dia a dia.

Leitura visual em 5 minutos: ao bater o olho, procure isso

  1. Inclinação (sobe, desce ou está plana?): se sobe, o mercado pede prêmio maior para prazos longos; se desce, projeta juros menores adiante; se achata, pode haver “alívio” no longo ou “aperto” no curto.
  2. Curvatura (barriga alta ou baixa?): barriga alta no meio indica maior incerteza sobre a taxa dos próximos 2–3 anos; barriga baixa sugere consenso nessa janela.
  3. Quebras (kinks): “dobrinhas” em vértices específicos normalmente embutem eventos de calendário (Copom, dados de inflação fortes, eleições, marcos fiscais/regulatórios).
  4. Movimento paralelo vs. rotação: tudo subiu/ caiu junto? Sinal de choque global. Só o curto mexeu? História de política monetária doméstica. Só o longo mexeu? Fiscal/risco-país.
  5. Resiliência do long-end: se o curto melhora e o longo não cede, a mensagem é: “ok, curto alivia; mas quero prêmio para o prazo”. Sem narrativa estrutural, alongar fica caro.
  6. DI nominal vs. IPCA+: comparar um DI longo com um título IPCA+ de prazo similar revela a inflação implícita. Se o “breakeven” abre, o mercado pede mais prêmio inflacionário/nominal.
  7. Volatilidade por trecho: curto é sensível a manchete; meio, a tendência do ciclo; longo, ao arcabouço fiscal e ao cenário global. Foque onde dói no seu P&L.

Front, belly, long-end: o que cada trecho precifica e como usar no negócio

Front (0–12 meses): tática de caixa, renegociação e precificação de curto prazo

O que embute: surpresas de inflação (combustíveis, serviços), decisões imediatas do Copom, sensação de atividade, câmbio/commodities. Como usar: (i) renegociar capital de giro atrelado a % do CDI e notas promissórias/LC curtas; (ii) ajustar timing de prefixar parte do giro quando o front fecha; (iii) calibrar reajustes táticos de preços (frete, contratos com bandas) se o front abre por choques de custo.

Sinal prático: front fechando após Copom mais “dovish” — oportunidade para rolar dívidas caras e antecipar captações curtas; front abrindo por choque de combustível — preparar repasses seletivos e reforçar hedge cambial/commodities.

Belly (18–48 meses): onde se decide a “taxa terminal” e as travas de 2–4 anos

O que embute: a visão do mercado sobre o juro “de equilíbrio” após o ciclo de alta/queda. Como usar: (i) escolher entre CDI vs. IPCA+ vs. prefixado para dívidas de 2–4 anos; (ii) desenhar carências e amortizações que “conversem” com o ramp-up do projeto; (iii) avaliar carry/rolldown: se o belly está alto, pode valer carregar curto e “descer a curva” — ou travar caso o risco de rotação adversa seja alto.

Sinal prático: belly “alto” com curto/longos estáveis — incerteza concentrada em 24–36 meses. Estratégia “barbell”: travar um pouco no curto (prefixado) e um pouco no longo (IPCA+), mantendo flexibilidade no miolo.

Long-end (5–10+ anos): custo de oportunidade para CAPEX, valuation e emissões longas

O que embute: risco fiscal, trajetória de dívida pública, produtividade, reformas, “prêmio Brasil” e risco global. Como usar: (i) referência para debêntures longas e project finance; (ii) desconto de fluxos (WACC) e decisões de go/no go em investimentos estruturais; (iii) ancoragem de passivos com duration compatível ao ativo.

Sinal prático: se o long-end fecha, abra janela para alongar; se “empaca” apesar de dados melhores, trabalhe governança, garantias e qualidade de informação para merecer spread menor quando o mercado reabrir.

Steepener, flattener e inversão: traduzindo em ação

  • Steepener (curva mais inclinada): curto cai/estável, longo sobe. Leitura: prêmio de prazo aumentou. Ação: evite travar muito longo agora; privilegie prazos médios e reforce story/garantias para emissões futuras.
  • Flattener (curva achata): curto sobe e longo cai (ou vice-versa). Leitura: aperto no curto, alívio estrutural — ou o contrário. Ação: alongar quando o longo “barateia” pode reduzir WACC.
  • Inversão (curto > longo): mercado antecipa recessão/queda de juros futura. Ação: cuidado para não alongar prefixado caro na euforia; use mix e preserve opcionalidade.

Carry & rolldown: o “pulo do gato” que evita pagar juro à toa

Carry é a remuneração implícita de “carregar” a posição se nada mudar; rolldown é o ganho/perda por “escorregar” de um vértice para outro ao longo do tempo. Exemplo: se DI Jan/28 = 10,6% e DI Jan/27 = 10,0%, ao avançar um ano, seu custo “natural” tende a cair 60 bps se a curva não se mexer. Empresas ignoram esse efeito e rolam dívidas em janelas ruins. Tenha um quadro simples com 3–4 vértices e a aritmética de carry/rolldown para embasar decisões de rolagem e travas.

Checklist do leitor esperto: o que mexe a curva todos os dias

  1. Copom e comunicação: o tom do comunicado e da ata muda o front e o belly.
  2. Inflação corrente e núcleos: gasolina, alimentos, serviços. Surpresa? Front mexe.
  3. Atividade: varejo, indústria, mercado de trabalho. Revisões de ciclo mexem o belly.
  4. Fiscal: primário, arcabouço, receitas, rating, eleições. Long-end sente primeiro.
  5. Externo: Treasuries EUA, commodities, geopolítica. Pode mover a curva toda em paralelo.

Decisões práticas ancoradas na curva (preço, hedge, funding e investimento)

Preço e repasses

Front abrindo por combustíveis? Eleve temporariamente o preço onde houver elasticidade e use contratos com bandas e gatilhos para repasse automático. Para importadores/exportadores, simule choque de câmbio + juros no Simulador de Risco Cambial / Perda Marginal e ajuste coberturas.

Funding

Front fechando e belly estável? Hora de rolar giro e reduzir spread. Flattener no longo? Avalie alongar passivos com IPCA+ (se a receita for inflacionada) ou emissões incentivadas. Compare CETs e prazos no Aurum – Simulador de Custo de Capital e teste rotas no Simulador de Mercado de Capitais.

Investimento e valuation

Long-end fechando reduz WACC: projetos “na margem” podem virar go. Monte análises de sensibilidade do fluxo ao movimento de 50–100 bps no DI longo; padronize taxa de desconto por “família de ativos”.

Tradução por perfil: como cada área usa a curva

Diretoria/CFO

Define a estratégia de indexadores (CDI/IPCA+/prefixado), prazos e metas de alongamento; aprova “janelas táticas” de emissão. Foco no belly/long-end para WACC e no front para custo de giro.

Tesouraria

Executa rolagens, hedges e arbitragem de carry/rolldown; controla covenants sensíveis a juros; acompanha kinks de calendário. Foco no front (decisões semanais) e no belly (mensais).

Suprimentos/Compras

Usa a leitura do front para negociar bandas de reajuste e janelas de compra de insumos (frete, aço, químicos), evitando “comprar alto” logo após kinks de inflação.

Comercial/Pricing

Ancora reajustes em rotina quinzenal/mensal olhando front e indicadores setoriais, para defender margem sem perder conversão.

Exemplos realistas de leitura (sem bola de cristal)

Caso A — Curva invertida por 3 meses

Situação: short > long, com Jan/26 acima de Jan/29. Interpretação: mercado vê corte de juros mais adiante. Ação: manter parcela relevante do giro em CDI, travar IPCA+ na dívida com receita inflacionada e segurar prefixado longo até que o belly indique estabilização.

Caso B — Steepener com long-end “duro”

Situação: dados domésticos neutros, mas ruído fiscal abre Jan/33 em +40 bps. Interpretação: prêmio de prazo piorou. Ação: evitar alongar agora; focar em emissões médias e reforçar governança/garantias para ganhar spread quando o longo aliviar.

Caso C — Flattener por melhora estrutural

Situação: reforma fiscal avança, long-end fecha 50 bps; front estável. Interpretação: alongar ficou mais barato. Ação: abrir janela de debênture longa, casando amortização com o ciclo do ativo; reduzir dependência de giro caro.

Erros comuns (e antídotos de uma linha)

  • Olhar só a taxa “do dia” → compare vértices e o movimento relativo (paralelo vs. rotação).
  • Concentrar indexador → monte carteira mista CDI/IPCA+/prefixado coerente com a receita.
  • Ignorar defasagens → alinhe frequência de reajuste da receita com a correção da dívida e crie reserva.
  • Travamento por manchete → espere confirmação por algumas sessões antes de travar grande volume.
  • Deixar carry na mesa → calcule rolldown e cronogramas de rolagem trimestrais.

Playbook 90/180/360 dias: da leitura à execução

Nos próximos 90 dias

  • Implante dashboard diário com 3 vértices (curto/médio/ longo), variações e alarmes.
  • Padronize comitê de preços com gatilhos (front abre X bps → repasse seletivo; fecha → revisar promoções).
  • Defina política de hedge (alvos de cobertura, stop-loss, instrumentos) casada ao calendário de compras e vendas.

Em 180 dias

  • Renegocie linhas de giro conforme front/belly; simule CETs no Aurum.
  • Estruture emissão-teste (NP/LC/debênture curta) se o belly fechar; avalie mix de indexadores.
  • Reescreva contratos críticos com cestas de indexadores e bandas automáticas.

Em 360 dias

  • Se o long-end fechar, ancore passivo com dívida longa (IPCA+/incentivada).
  • Vincule bônus a CCC (ciclo de caixa) e giro de estoque, coerentes com o custo de capital implícito na curva.
  • Implemente ALM formal, casando prazos/indexadores de dívida e receita.

💠 Calcular CET por vértice (CDI × IPCA+ × prefixado)

📊 Simular emissão (debêntures/NP/LC) e janelas de mercado

▶ Simular choque de câmbio + juros na margem

FAQ rápido

DI é a Selic do futuro?

Não exatamente. DI é a taxa média esperada do CDI até cada vencimento, e o CDI acompanha a Selic. É o melhor proxy, mas não igual.

Front caiu e long-end subiu. O que isso diz?

Que o mercado vê alívio no curto, mas pede prêmio no prazo. Tática: rolar curto, preparar governança/garantias e alongar quando o longo aliviar.

Quando prefixar?

Quando você precisa previsibilidade ou tem convicção de queda futura. Prefira prefixar parcialmente para manter opcionalidade.

IPCA+ sempre ganha no longo?

Não. Depende do spread e da inflação esperada — e de como sua receita é reajustada. Compare CETs.

Como acompanhar sem virar trader?

Monitore 3 vértices, Copom, inflação e 2–3 indicadores de atividade. Atualize decisões grandes apenas quando houver mudança de tendência.

Conclusão: transforme o gráfico em caixa

Ler a curva DI é arte aplicada: ver inclinação, curvatura e kinks; entender onde está a briga (front, belly, long-end); e tomar decisões que reduzam CET, preservem margem e protejam o caixa. Em 5 minutos por dia, você identifica janelas de rolagem, oportunidades de alongamento e momentos certos de repassar preço. Com disciplina, contratos inteligentes e hedge calibrado, a curva deixa de ser “um gráfico complicado” e vira ferramenta de gestão que paga a conta.

Qual é a Sua Reação?

Like Like 1
Não Curtir Não Curtir 0
Love Love 0
Engraçado Engraçado 0
Irritado Irritado 0
Triste Triste 0
Uau Uau 0
Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.