CET: custo efetivo total sem mistério

O que entra no CET, como amortização e indexador mudam o custo e 6 alavancas para derrubá-lo em PF e PJ.

Nov 4, 2025 - 11:56
Nov 2, 2025 - 19:14
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CET: custo efetivo total sem mistério

CET: custo efetivo total sem mistério

Tempo de leitura: 14 min

Resumo executivo

O CET (Custo Efetivo Total) é a régua que traduz tudo o que você paga em uma operação de crédito: taxa, tarifas, seguros, IOF, indexador, amortização e até a carência. É o número que permite comparar, de forma justa, propostas diferentes. Neste guia, você aprende o que entra no CET, como ele muda com o perfil de amortização, por que “taxa vitrine” engana e quais alavancas reduzem o CET na prática — tanto para PF (pessoa física) quanto para PJ (empresas).

O que é CET (e por que não é só “a taxa”)

O CET anual (e mensal) expressa o custo total de um financiamento ou empréstimo em termos percentuais, incorporando todos os encargos obrigatórios e a mecânica do fluxo de caixa. Duas propostas com a mesma “taxa nominal” podem ter CETs muito diferentes se mudarem tarifas, seguros, IOF e — principal — o perfil de amortização e carência.

  • Taxa nominal: o juro “de etiqueta” (CDI + spread; IPCA + cupom; prefixado % a.a.).
  • Encargos: tarifas de abertura, avaliação, registro, commitment fee, seguros, IOF.
  • Dinâmica: carência, capitalização de juros, amortização (SAC/PRICE/bullet), periodicidade de pagamento.
  • Indexador: CDI, IPCA ou USD. O CET muda com a trajetória do indexador (curva futura importando no caso do CDI).

Resumo: CET é a “verdade do preço”. É com ele que você deve decidir.

CET para PF x PJ: pontos que mais mudam o jogo

Pessoa Física

  • Cartão/rotativo: CET explode pela combinação de juros altos + incidências; evite e troque por linhas mais baratas.
  • Veículos e imobiliário: seguros e tarifas mudam muito o CET. Compare “all-in”, não só a taxa do folheto.
  • CDC e consignado: consignado tem CET menor (risco reduzido). Atenção à venda casada de seguros.

Pessoa Jurídica

  • Capital de giro: “CDI + spread” não diz tudo. CET sobe com tarifas, carência, PRICE em vez de SAC e garantias fracas.
  • Debêntures e NPs: custos de estruturação e distribuição entram no CET. Em trocas com garantias melhores, o spread cai e o CET acompanha.
  • Linhas BNDES: prazos longos e carência ajudam o caixa e normalizam CET. Compare “BNDES + custos” versus “banco livre + garantias”.

Amortização e carência: o motor oculto do CET

Mesmo com a mesma taxa nominal, PRICE tende a ter juros maiores no começo e parcela constante; SAC reduz parcela ao longo do tempo (juros caem mais rápido), o que normalmente abaixa o CET. Carência pode ser útil para o ramp-up de projetos, mas eleva o CET se os juros forem capitalizados.

  • SAC: melhor para preservar DSCR e reduzir CET em horizontes longos.
  • PRICE: parcela constante (boa para orçar), mas custo total tende a ser maior.
  • Bullet: juros periódicos e principal no final. Útil em operações estruturadas, mas exige disciplina e caixa no vencimento.

Dica: sempre peça simulação do CET com o cronograma real — índice, carência, amortização, tarifas. Sem isso, você compara “maçã com laranja”.

Indexador e CET: CDI, IPCA e USD

  • CET em CDI+: depende da trajetória do CDI (curva DI). Em ciclos de alta, seu CET sobe mesmo se o spread não mudar.
  • CET em IPCA+: juro real + inflação. Se o IPCA surpreender para cima, o serviço da dívida aumenta; o inverso também vale.
  • CET em USD: barato em juros, mas sensível ao câmbio. Só faz sentido com hedge natural (receita em USD) e política de derivativos (NDF/termo/opções) para o residual.

Regra de ouro: case a base da dívida com a base da receita (ALM). Quando não houver casamento, use swaps para converter o indexador e reduzir o CET de risco (o “custo das surpresas”).

Exemplos práticos (números ilustrativos)

1) Giro de 24 meses — mesma taxa, CET diferente

Proposta A: CDI + 6,0% (PRICE), tarifa 1,0%, carência 3 meses com capitalização. Proposta B: CDI + 6,0% (SAC), tarifa 0,3%, sem carência. A taxa “igual” esconde: B tem CET menor, parcela inicial mais barata e DSCR melhor.

2) IPCA+ vs. CDI

Debênture de 5 anos: IPCA + 5,0% (SAC) versus CDI + 3,5% (PRICE). Com IPCA estável e queda do CDI, a IPCA+ pode manter CET previsível; com IPCA subindo e CDI caindo, a CDI+ pode vencer. Simule cenários.

3) USD com hedge natural

Empresa exportadora troca parte do giro para FX loan e swapa o restante em CDI→USD. O juro nominal em USD é menor e o CET consolidado cai, pois a base casa com a receita.

Seis alavancas para reduzir CET sem “milagre”

  1. Garantias que “compram bps”: cessão fiduciária de recebíveis qualificados (escrow), alienação fiduciária de máquinas/imóveis, seguros. Quanto mais líquido e executável, maior a queda de spread e do CET.
  2. Concorrência (roadshow): rodar 3–5 casas e comparar CET all-in força compressão de preço e melhores cláusulas.
  3. Amortização adequada: preferir SAC quando possível; carência só quando o projeto pede e com custo explícito.
  4. Covenants “remediáveis”: step-down de spread por metas (DSCR, alavancagem) e remédios graduais em vez de gatilhos binários. Menos risco → CET menor.
  5. Base correta: use swap para alinhar CDI↔IPCA↔USD ao seu fluxo. O CET de risco cai quando a base “conversa” com a receita.
  6. Qualidade de informação: data room com DRE/BS/FC auditados, KPIs e projeções confiáveis aumenta apetite do credor e derruba spread.

Como comparar propostas: checklist do CFO (e da família)

  • Exija CET anual e mensal all-in, com memória de cálculo (taxas, tarifas, seguros, IOF, cronograma).
  • Peça a Tabela de Fluxos (datas, amortização, juros, saldo devedor). Sem isso, você não vê o custo real.
  • Simule cenários do indexador: curva DI base/alta/baixa (CDI+), IPCA base/alta/baixa (IPCA+), câmbio (USD).
  • Considere o DSCR (empresas) e a parcela/disponível (famílias). CET baixo com parcela impagável continua ruim.
  • Compare custos de pré-pagamento e IOF. Em operações curtas, o IOF pesa muito no CET.

Erros comuns (e o antídoto)

  • Olhar só a taxa nominal → Compare CET com fluxos e encargos.
  • Ignorar amortização → PRICE pode inflar CET; teste SAC e bullets parciais.
  • Carência “gratuita” → Juros capitalizados elevam CET; só use se o projeto precisar.
  • Desalinhamento de base → Dívida em CDI com receita travada em preço fixo = risco. Corrija com swap.
  • Garantias ineficazes → Estoque difícil de executar não reduz spread; priorize recebíveis/ativos registráveis.
  • Roadshow estreito → Sem competição, o CET não cai. Leve o caso a mais instituições.

FAQ rápido

CET é sempre maior que a taxa nominal?

Quase sempre, pois inclui custos adicionais. Em operações subsidiadas e sem tarifas, a diferença pode ser pequena.

Por que CET muda entre propostas “CDI + 4%” parecidas?

Porque tarifas, seguros, IOF, carência e o cronograma (SAC/PRICE) alteram o fluxo e, portanto, o CET.

Posso reduzir CET depois de contratar?

Sim: reprecificação com novas garantias, step-down por metas, pré-pagamento (avaliar multa) ou migração para linha melhor.

Como o hedge ajuda no CET?

Reduz incerteza de indexador/câmbio. Menos volatilidade de caixa → menor risco percebido → spread menor → CET menor.

Playbook 30/90/180 dias

Em 30 dias

  • Mapeie todas as dívidas com taxa, indexador, CET, amortização, carência, tarifas, garantias e covenants.
  • Monte cenários do indexador (CDI/IPCA/USD) e do câmbio. Avalie DSCR e sensibilidade de parcela.
  • Liste garantias “melhoráveis” (recebíveis, imóveis, máquinas) e calcule potencial de bps de economia.

Em 90 dias

  • Rode roadshow com 3–5 instituições; peça CET all-in e Tabela de Fluxos.
  • Negocie step-down de spread por metas e remédios graduais em covenants.
  • Implemente política de hedge por buckets (30/90/180/360) e ajuste base com swaps.

Em 180 dias

  • Consolide a estrutura ótima (giro + debênture/NP + BNDES, se aplicável) com SAC quando possível.
  • Crie dashboard mensal de CET, DSCR, alavancagem e CFaR para reprecificar continuamente.
  • Capture step-downs contratados e reavalie garantias para novas reduções de spread.

Ferramentas GX para reduzir CET agora

💠 Aurum — Comparar CET por indexador (CDI × IPCA+ × USD) 📊 Debêntures/NP/LC — estruturar e estimar CET 🏗 Linhas BNDES — taxas, prazos e carência 💾 Antecipação de Recebíveis — comparar FIDC vs. desconto

Nota

Conteúdo educativo. Exemplos numéricos são ilustrativos e não constituem oferta de crédito ou recomendação de investimento.

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Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.