O que é CDI e por que ele importa

Guia prático sobre CDI: diferenças para a Selic, impacto em pós-fixados, crédito “CDI + spread”, curva DI e decisões para PF e PJ.

Oct 31, 2025 - 11:36
Oct 31, 2025 - 11:31
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O que é CDI e por que ele importa

O que é CDI e por que ele importa

Tempo de leitura: 14 min

Resumo executivo

O CDI é a taxa que referencia os empréstimos de curtíssimo prazo entre bancos. Por refletir o “preço do dinheiro” no interbancário e caminhar muito próximo da Selic, o CDI se tornou o indexador-padrão de grande parte do mercado: pós-fixados (CDBs, LFs, LCs), fundos DI e uma porção relevante do crédito corporativo (capital de giro, debêntures flutuantes, NPs). Para investidores e empresas, entender CDI é entender como a taxa básica “vira realidade” em rendimento, parcelas, CET e WACC. Este guia explica o que é, como é calculado, diferenças para a Selic, como afeta PF e PJ e como tomar decisões melhores usando CDI a seu favor.

CDI em 1 minuto: definição e origem

CDI é a sigla de Certificado de Depósito Interbancário. Na prática, trata-se da taxa média das operações de um dia entre bancos, usadas para fechar o “caixa” diário do sistema. Essas transações são de baixíssimo risco (entre instituições financeiras supervisionadas) e, por isso, a taxa do CDI é considerada o piso de referência para aplicações e empréstimos de risco baixo no mercado.

Como o Banco Central conduz a política monetária direcionando a Selic, e o interbancário precisa “encaixar” liquidez todo dia, o CDI costuma ficar muito próximo da Selic efetiva, com pequenas diferenças técnicas. Resultado: o CDI tornou-se o indexador mais utilizado para pós-fixados e para precificar o custo do dinheiro no Brasil.

CDI x Selic: iguais ou diferentes?

Embora andem coladas, CDI e Selic não são a mesma coisa:

  • Selic é a taxa básica definida pelo Comitê de Política Monetária (meta), com uma taxa efetiva diária resultante das operações compromissadas com títulos públicos.
  • CDI é a média das operações interbancárias de um dia entre bancos. Historicamente, o CDI fica alguns pontos-base abaixo ou acima da Selic efetiva, mas sem grandes desvios.

Na vida real, o investidor vê produtos “XX% do CDI”, enquanto o tomador de crédito enxerga ofertas “CDI + spread”. São duas faces da mesma moeda: o CDI como régua de remuneração e de custo.

Como o CDI impacta seus investimentos (PF)

Para pessoa física, o CDI está por toda parte:

  • CDBs/LCs/LFs pós-fixados pagam um percentual do CDI (ex.: 105% do CDI). A diferença entre 100% e 110% do CDI, acumulada por anos, é grande.
  • Fundos DI e multimercados conservadores buscam render próximo ao CDI líquido de taxa (quanto mais eficiente, melhor).
  • Previdência de perfil conservador e carteiras de reserva de emergência também “miram” o CDI como referência.

Dica prática: compare líquido de taxa e imposto. Um CDB 110% do CDI com IR pode perder de uma LCI/LCA 95% do CDI isenta, a depender do prazo. Olhe o retorno líquido anualizado, não apenas o “% do CDI”.

Como o CDI entra no crédito (PJ e PF)

Do lado de quem toma recursos, o CDI aparece como indexador somado a um spread (remunera risco, capital regulatório, custos e margem do banco). Exemplos:

  • Capital de giro: CDI + spread (varia conforme garantias, covenants e qualidade da informação).
  • Debêntures flutuantes: cupom atrelado ao CDI (ex.: CDI + 3% a.a.).
  • Notas promissórias: prazos curtos e forte ligação com a curva DI/CDI.

Em todos os casos, o que importa no fim é o CET (Custo Efetivo Total), que inclui impostos, tarifas e seguros. A mesma “taxa CDI + x%” pode virar CETs diferentes dependendo de carências, amortização (SAC/PRICE), garantias e custos acessórios.

CDI e curva DI: olhando para frente

Para prazos mais longos, o mercado usa a curva DI (Depósitos Interfinanceiros) negociada na B3 para inferir expectativas de CDI/Selic no futuro. Essa curva embute projeções de inflação, política monetária e prêmio de risco. Assim, um financiamento “CDI + spread” com prazo de 36 meses carrega implícito “o CDI de cada mês futuro” — ou seja, cenários importam.

Tradução prática: antes de fechar uma dívida indexada ao CDI, simule o fluxo com diferentes trajetórias da curva e faça stress test de caixa e covenants (DSCR, alavancagem). Para investimento, avalie se seu objetivo (reserva, médio prazo, longo prazo) combina com ativos pós, prefixados ou IPCA+.

CDI e custo de capital (WACC): por que o CFO liga para isso

O CDI é o ponto de partida do custo de dívida em reais. Somando o spread de crédito e ajustando pelos benefícios fiscais (escudo do IR), você chega ao custo de dívida pós-imposto. No WACC (custo médio ponderado de capital), esse componente interage com o custo de equity (influenciado pelo juro real e prêmio de risco) para determinar o hurdle rate de projetos.

Implicação: quando CDI/Selic sobe, o WACC sobe, mais projetos “caem na peneira” e o equity fica mais caro. Quando cai, o apetite por risco aumenta — mas o spread pode seguir alto se o risco idiossincrático da empresa não melhorar (informação ruim, garantias fracas, governança precária).

Quando faz sentido não escolher CDI

Nem tudo deve ser CDI. Três situações comuns:

  1. Receitas indexadas ao IPCA: linhas IPCA+ ou debêntures atreladas à inflação podem “casar” melhor com o seu fluxo (ALM) e reduzir risco de base.
  2. Exportadores/importadores: o USD (via FX loan) pode ser mais eficiente, desde que haja hedge natural e governança de derivativos (NDF/termo/opções) para o residual.
  3. Projetos longos com taxa previsível: prefixar parte do passivo em janelas favoráveis dá visibilidade ao DSCR e reduz incerteza.

O segredo é mix de bases (CDI/IPCA/USD) conforme receitas e contratos, com swaps para corrigir descasamentos.

Exemplos práticos (ilustrativos)

Investidor pessoa física

Reserva de emergência em fundo DI líquido D+0 que rende próximo do CDI após taxas. Metas de médio prazo podem usar CDBs 110% do CDI ou LC/LI/LCI isentas — compare líquido e prazo de carência.

Empresa de varejo (giro)

Giro de 24 meses a CDI + 6,0% a.a. com garantia de recebíveis “AA” e DSRA de 2 meses. Ao trocar estoque por escrow de recebíveis qualificados, o spread cai para +4,5% a.a., reduzindo o CET e melhorando o DSCR.

Exportadora (ALM)

Metade do passivo em CDI pressionava DSCR quando USD caía. Ao swapar CDI→USD em 50% da dívida, alinhou-se a base ao fluxo de receita, reduzindo volatilidade de caixa e melhorando a precificação de risco.

Checklist rápido para decidir melhor

  • Qual é a base do seu fluxo? CDI, IPCA ou USD? Se não existe repasse, cuidado com riscos “importados”.
  • Qual o CET? Não olhe só “% do CDI” ou “CDI + x%”. Some tarifas, IOF, seguros e amortização.
  • Há garantias que reduzem spread? Recebíveis qualificados, alienação fiduciária etc. “compram bps”.
  • Curva DI futura: simule cenários. Sua empresa aguenta CDI +2 p.p. por 12 meses?
  • Governança: política de hedge por buckets (30/90/180/360) e comitê quinzenal evitam “palpites” caros.

Erros comuns (e como evitar)

  • Comparar só taxa vitrine (ex.: 110% do CDI) e ignorar taxa de administração/IR → foque no líquido.
  • Indexar dívida em CDI sem ter receitas alinhadas → use swap ou mude a base.
  • Prazo errado em crédito → amortização descolada do ciclo derruba DSCR; prefira SAC/cronograma que “converse” com entradas.
  • Hedge reativo → política por janelas evita decisões emocionais.

Playbook em 30/90/180 dias

Em 30 dias

  • Mapeie dívidas e aplicações por indexador (CDI/IPCA/USD), prazo, CET e garantias.
  • Defina política de caixa (reserva, tático e estratégico) e o papel do CDI em cada caixinha.

Em 90 dias

  • Reprecifique giro com pacote de garantias que “compra bps”.
  • Implemente hedge por buckets e integre bandas de preço ao comercial (se houver câmbio).

Em 180 dias

  • Revise o mix CDI/IPCA/USD; faça swaps para corrigir bases.
  • Padronize reporting (DSCR, alavancagem, CFaR) para reduzir spread no próximo ciclo.

Ferramentas GX para levar à prática

💠 Aurum – Comparar CET por indexador (CDI × IPCA+ × USD) 📊 Debêntures/NP/LC – montar cenários 🌎 Risco cambial – buckets 30/90/180/360 🏗 Linhas BNDES – taxas, prazos e carência

Nota

Conteúdo educativo; exemplos numéricos são ilustrativos e não constituem recomendação de investimento ou crédito.

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Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.