Liquidez x prazo: como equilibrar
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Resumo executivo
Equilibrar liquidez e prazo é decidir quanto do seu dinheiro (PF ou PJ) precisa estar disponível agora — e quanto pode ser alocado por horizontes maiores para capturar retorno. O dilema não é binário: constrói-se uma régua de caixa com três blocos — reserva, tático e estratégico — combinando indexadores (CDI, IPCA+, USD), prazos e amortizações que respeitem seu ciclo de entradas/saídas. Neste guia, você entenderá como definir a duration de caixa, evitar mismatch que derruba DSCR e como escolher instrumentos e prazos para reduzir CET sem abrir mão da liquidez crítica.
Liquidez x prazo: o trade-off em uma frase
Quanto mais liquidez imediata, menor tende a ser a remuneração; quanto mais prazo (e menor liquidez), maior pode ser o retorno — mas também o risco (de mercado, de crédito e de reinvestimento). O equilíbrio ideal nasce do calendário de caixa e da tolerância a perdas temporárias.
A régua de caixa em 3 andares
1) Reserva (liquidez imediata)
- Objetivo: pagar imprevistos e despesas recorrentes sem vender ativos com perda.
- Instrumentos típicos: fundos DI D+0/D+1 e CDBs com liquidez diária que acompanham CDI.
- Regra: aqui, segurança > rentabilidade. Evite concentração em emissores arriscados.
2) Caixa tático (30–360 dias)
- Objetivo: cobrir saídas programadas (impostos, 13º, estoques, parcelas de dívida) e oportunidades táticas.
- Instrumentos: CDBs, LFs e LCs pós-fixadas, letras isentas (LCI/LCA) com prazos curtos, e prefixados curtos quando a curva favorece.
- Gestão: use ladder de vencimentos para reduzir risco de janela ruim.
3) Caixa estratégico (≥ 12–36 meses)
- Objetivo: preservar poder de compra e financiar projetos/expansão com visibilidade.
- Instrumentos: IPCA+ de médio prazo (quando a inflação estiver ancorada), prefixados longos, debêntures e — para empresas — alongamentos (BNDES/debêntures) compatíveis com o ciclo do negócio.
- Observação: maior sensibilidade a marcação a mercado; compatibilize com horizonte real.
Duration de caixa: o elo entre liquidez e prazo
Duration de caixa é o prazo médio ponderado das suas necessidades de pagamento. Se sua empresa paga uma parcela relevante a cada 60 dias, sua duration não pode ser de 720 dias. Para PF, grandes saídas (educação, entrada de imóvel, cirurgia) também definem a régua.
- PF: mapeie 6–12 meses de despesas; separe 3–6 meses em reserva; escalone metas de 1–5 anos.
- PJ: projete 18–24 meses com cenários (base, otimista, estressado); some DSRA (reserva de serviço da dívida) se houver covenants.
Prático: alinhe vencimentos de aplicações às saídas previstas. E alinhe indexador de passivos às receitas (ALM) para não “importar” volatilidade.
Indexador, prazo e CET: como escolher
- CDI+: flexível, conversa com a curva DI; ideal para reserva e tático. Em ciclos de alta de juros, o CET de dívidas em CDI sobe; teste cenários antes de travar prazos.
- IPCA+: protege poder de compra no longo prazo; adequado ao bloco estratégico quando a inflação estiver ancorada.
- Prefixado: dá previsibilidade; bom em janelas de queda de juros não precificadas — atenção à marcação.
- USD (para PJs com receitas em dólar): pode reduzir CET via FX loan, mas exige hedge para o residual; só use se existir hedge natural.
Erros comuns (e o antídoto em uma linha)
- Confundir reserva com investimento → Reserva é liquidez e segurança, não busca “bater CDI”.
- Concentrar vencimentos → Use escada (ladder) e evite “paredões”.
- Carregar prefixado longo com horizonte curto → Risco de vender com perda em necessidade imprevista.
- Descasar base do passivo (CDI/IPCA/USD) das receitas → Corrija com swaps e política de ALM.
- Ignorar CET no crédito → “Taxa vitrine” engana; compare all-in com amortização e carência.
Como montar sua régua (passo a passo)
- Liste entradas e saídas por mês (PF: orçamento familiar; PJ: DRE/FC + cronograma de dívida).
- Defina colchão (PF: 3–6 meses; PJ: 2–3 folhas + DSRA se houver covenant).
- Separe caixas: reserva (D+0/D+1), tático (30–360 dias), estratégico (≥ 12–36 meses).
- Escolha indexadores por bloco e monte uma escada de vencimentos.
- Revise trimestralmente (PF) ou mensalmente (PJ) os desvios e as janelas de oportunidade.
PF: exemplos rápidos (ilustrativos)
- Reserva: fundo DI D+0 rendendo próximo ao CDI líquido de taxa.
- Metas 12–24 meses: CDBs 105–110% do CDI com vencimentos a cada 3–4 meses.
- Metas 36–60 meses: IPCA+ com cupom real atraente; diversifique emissões e prazos.
PJ: exemplos rápidos (ilustrativos)
- Giro sazonal: tático em CDI+ com ladder 60/90/120 dias para casar com recebíveis.
- Projetos: estratégico em BNDES/debêntures IPCA+/prefixadas com SAC para preservar DSCR.
- Exposição cambial: use NDF/termo (buckets 30/90/180/360) e swaps de base para reduzir volatilidade do caixa.
Playbook 30/90/180 dias
Em 30 dias
- Monte seu calendário de caixa (PF: planilha simples; PJ: D+0, D+30, D+60… com entradas/saídas e covenants).
- Defina percentuais-alvo para reserva/tático/estratégico e crie a escada de vencimentos.
Em 90 dias
- Para PJ: renegocie giro com garantias que “compram bps” e reduza CET.
- Para PF: ajuste a carteira conforme a curva DI (mais prefixado quando a queda não estiver precificada).
Em 180 dias
- Alongue parte do passivo (PJ) quando as janelas estiverem favoráveis; consolide covenants remediáveis.
- Revise a duration de caixa e reponha a reserva após grandes saídas.