Menos empresas na Bolsa: como financiar crescimento com juros altos (e preparar a próxima janela)

B3 com menos listadas, IPOs raros e crédito privado em alta. Veja como redesenhar o funding, reduzir CET e ficar pronto para a janela de mercado.

Oct 24, 2025 - 19:28
Oct 24, 2025 - 19:24
 0  2
Menos empresas na Bolsa: como financiar crescimento com juros altos (e preparar a próxima janela)

Menos empresas na Bolsa e juros altos: o que isso muda no seu “funding stack”

Tempo de leitura: 22 min 

Resumo executivo: juros altos espantam IPOs, mas não o capital

O Brasil convive em 2025 com um custo de oportunidade elevado e um mercado acionário mais enxuto. O número de empresas listadas na B3 recuou em relação ao pico pós-2020, e as janelas de equity seguem estreitas. Ainda assim, o capital não desapareceu: ele migrou para alternativas como debêntures, FIDCs, notas comerciais, BDRs e capital privado. Para CFOs e conselhos, o jogo é reorganizar o funding stack, reduzir CET com engenharia de prazos/garantias/covenants e manter preparação contínua para a próxima janela de mercado.

O cenário: Bolsa “magrela”, ciclo de juros e a rotação para crédito

Segundo levantamento recente, a B3 conta com 358 companhias, abaixo das 371 de um ano atrás e das 398 de 2022, após o último ciclo de IPOs. As razões citadas: juros altos, reprecificação de risco e ondas de fechamento de capital/M&A, inclusive com controle migrando para capital privado. Em paralelo, há expectativa de que uma queda sustentável de juros possa reabrir a janela de ofertas, inclusive para companhias menores sob um regime regulatório mais simples para small caps

No curto prazo, porém, a rotação é visível: emissões domésticas de dívida ganharam tração (debêntures e retomada de FIDC), com meses recentes figurando entre os maiores volumes do ano no mercado local.

Do lado de IPOs, a mensagem de autoridades de mercado e investment bankers tem sido consistente desde 2024: janelas dependem de atividade econômica, apetite estrangeiro e, principalmente, Selic em “single digit”. Enquanto isso não se consolida, abrem-se exceções pontuais e muita empresa espera — ou usa vias alternativas. 

O que está por trás: custo de capital, preferência por renda fixa e “privatização” do crescimento

Juro alto encarece o equity (via desconto de fluxo) e torna renda fixa mais atraente, deslocando demanda por ações. Além disso, o avanço do capital privado (fundos locais e internacionais) oferece cheques grandes sem a exposição e os custos recorrentes de companhia aberta. Empresas com perfil de crescimento, mas fluxo ainda volátil, preferem rodadas privadas ou estruturas híbridas enquanto amadurecem governança e previsibilidade de caixa.

Essa “privatização do crescimento” também aparece em soluções como BDRs de companhias estrangeiras/holdings que dão exposure local a negócios que ainda não farão IPO individual — um atalho de mercado de capitais sem multiplicar ofertas. 

Diagnóstico 2025: sete fatos que todo CFO precisa ter no radar

  1. Base de companhias listadas menor, com efeito combinado de M&A e going-private, e o peso do juro alto na preferência do investidor. 
  2. Janela de IPOs curta e seletiva; conversas existem, mas execução depende de juros e flows
  3. Debêntures e FIDCs retomam volumes e suprem parte do hiato do equity
  4. CVM e B3 discutem facilitação para companhias menores, mirando lowering costs de abertura e manutenção (o chamado “Regime Fácil”, citado no noticiário). 
  5. Selic elevada desloca apetite, encarece investimento e adia projetos marginais — com evidências acadêmicas e de mercado abundantes. 
  6. Estrangeiro seletivo: apesar de teses positivas para Brasil, o filtro está mais rigoroso e setorial. 
  7. BDRs e listagens alternativas ganham palco como ponte para o investidor local acessar “novas teses” sem IPO pleno. 

Implicações práticas: como redesenhar seu “funding stack” em 2025/2026

Em vez de esperar a “grande janela”, as empresas vencedoras montam uma escada de financiamento que combina instrumentos, prazos e garantias para minimizar CET e preservar flexibilidade. Pense em três andares:

1) Caixa tático (0–12 meses)

  • Notas comerciais e debêntures curtas para capital de giro, com covenants razoáveis e step-down de spread atrelado a alavancagem/DSCR.
  • FIDC para giro/recebíveis, isolando risco do balanço e liberando limites bancários.
  • ACC/ACE para exportadores, casando embarques e melhorando o ciclo de caixa.

2) Capex e alongamento (12–60 meses)

  • Debêntures “carimbadas” (infra/ESG, quando elegível) para reduzir custo via incentivos.
  • BNDES/Agências (FINAME/FINEM/ESG) para máquinas, energia e expansão — com ALM para casar serviço da dívida à geração de caixa.
  • Swaps para alinhar indexadores ao fluxo (CDI ↔ IPCA ↔ USD).

3) Equity estratégico (janela)

  • Rodadas privadas (PE/VC) com governança de companhia aberta “em dry-run”.
  • Re-IPO/Follow-on quando (e se) a janela abrir: pipeline pronto, equity story afiado, unit economics comprovados.
  • BDRs/listagens alternativas para ampliar base de investidores sem multiplicar IPOs de subsidiárias. 

📊 Simulador de instrumentos (debêntures/NP/LC) 🏗 Linhas BNDES: taxas, prazos e carência 💠 Aurum: comparar CET por estrutura

Checklist de prontidão para “quando a janela bater”

  1. Governança: conselho ativo, auditoria independente, quarterly close “na régua” e guidance responsável.
  2. Equity story: tese simples, métrica norteadora (LTV/CAC, margem por unidade, recorrência), alocação de capital explícita.
  3. KPIs e coortes: unit economics, churn/retention, ROIC por projeto, playbook de crescimento.
  4. Legal/IR: data room organizado, política de divulgação, calendário de fatos relevantes, mock de roadshow.
  5. ALM: dívida “na base certa” (swap se preciso) para evitar que juros/câmbio destruam a precificação do equity.

Por que o crédito privado cresceu? (e como usar a seu favor)

Com o investidor local remunerado na renda fixa e segurando risco de equity, o mercado de dívidas virou a válvula de escape do investimento corporativo. Dados recentes mostram meses recorde/robustos de captação em debêntures e retomada dos FIDCs, com oferta pulverizada e institucional. 

Para o emissor, a vantagem é montar story de crédito que “compra bps”: garantias inteligentes (escrow/alienação), DSRA, covenants operacionais claros e step-down de spread vinculado a metas (DSCR/alavancagem). Isso reduz CET e prepara a transição para equity mais adiante.

O papel do juro: mais que custo, é “curador” de projetos

Selic elevada “peneira” investimentos: somente projetos com retornos reais robustos passam. Evidências empíricas recentes reforçam que altas de juro desestimulam capex de companhias abertas e atrasam crescimento — o que explica parte da fila curta de IPOs. 

Para destravar, duas frentes: micro (engenharia financeira, governança, metas de eficiência) e macro (credibilidade fiscal/monetária). Enquanto a segunda é lenta e fora do seu controle, a primeira é imediata e está nas suas mãos.

Playbook 30/90/180/360: do agora à próxima janela

Em 30 dias

  • Mapeie capex/giro e crie um plano em dois trilhos: (i) crédito privado agora; (ii) equity-ready contínuo.
  • Rode o Aurum para comparar CET entre debêntures/NP/FIDC/BNDES e mix de garantias/covenants.
  • Monte ALM e avalie swaps para casar base da dívida a receitas.

Em 90 dias

  • Estruture debênture ou NP com step-down de spread atrelado a metas operacionais.
  • Negocie linhas BNDES para projetos elegíveis e combine com FIDC para liberar limites bancários.
  • Implemente política de hedge por buckets (30/90/180/360) para estabilizar caixa.

Em 180 dias

  • Revise governança/IR; publique relatórios e métricas como se já fosse aberto.
  • Faça dry-run de equity story com investidores de crédito buy-and-hold (feedback riquíssimo).
  • Teste BDR/listagem alternativa para ampliar base de investidores (quando fizer sentido setorial). 

Em 360 dias

  • Reprice a estrutura de dívida com step-downs conquistados; avalie follow-on/IPO se a janela abrir.
  • Consolide covenants saudáveis: remédios graduais, headroom e definições precisas (EBITDA/caixa elegível).
  • Documente hedge accounting para reduzir ruído contábil e facilitar vida do investidor long-only.

💠 Comparar CET por estrutura (Aurum) 📊 Montar debênture/NP/LC por cenário 🏗 Simular BNDES (FINEM/ESG/FINAME)

FAQ (perguntas frequentes)

Queda no número de listadas significa “fim da Bolsa”?

Não. Significa hibernação cíclica. Em 2020–2021 houve boom; desde 2022, juros altos e M&A encolheram a base. O pêndulo pode voltar com normalização de juros e crescimento. 

É melhor esperar IPO ou emitir dívida agora?

Depende do CET, da urgência do projeto e do seu rating. Muitas companhias financiam crescimento via crédito agora e mantêm IPO-ready para usar equity como “refinanciamento estratégico” quando a janela abrir.

BDR resolve para quem quer acesso a tech?

BDR é ponte útil para o investidor local acessar teses sem IPO individual de cada empresa do grupo/holding — como em listagens recentes que ampliam o cardápio de techs. 

O que fazer para cortar CET em dívida?

Caprichar nas garantias, DSRA, covenants operacionais claros e step-down de spread por metas. Isso “compra bps”.

Juro alto inviabiliza tudo?

Não. Inviabiliza o que tem ROIC fraco. Projetos bons passam na peneira e ainda ganham alavancagem responsável via debêntures/BNDES/FIDC.

Conclusão: “esperar a janela” é tática; “estar pronto” é estratégia

Em 2025, a foto é de Bolsa esvaziada e crédito privado robusto; em 2026, a música pode mudar — mas só dança bem quem ensaiou antes. Se a sua empresa dominar CET, ALM, covenants e tiver equity story “no ponto”, vai escolher o melhor instrumento para cada fase, sem ser refém do calendário do mercado.

📊 Simular instrumentos e covenants 💠 Ver CET por prazo/indexador 🏗 Explorar linhas BNDES

Qual é a Sua Reação?

Like Like 0
Não Curtir Não Curtir 0
Love Love 0
Engraçado Engraçado 0
Irritado Irritado 0
Triste Triste 0
Uau Uau 0
Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.