Carteira de 2026: modelo “Core & Satellite” para UHNWIs
Resumo executivo
O modelo Core & Satellite organiza a carteira de UHNWIs como um edifício: um núcleo (“Core”) global, líquido e de baixo custo — que entrega a maior parte do retorno de longo prazo — e satélites que adicionam alpha, prêmios de iliquidez, temas estruturais e proteções assimétricas. Em 2026, o desafio não é “adivinhar” juros/crescimento, mas codificar decisões em uma política de investimento (IPS) com bandas, métricas e governança: (i) três camadas de liquidez (D+0/30/365), (ii) mistura de fatores (valor, qualidade, duration de renda fixa, small/large, macro), (iii) alternativos com diligência (PE, VC, crédito privado, hedge funds, real assets), (iv) gestão de riscos (moeda, drawdown, concentração, jurisdição) e (v) custos e impostos sob controle. Este guia descreve a arquitetura alvo, um playbook de 30–180 dias, KPIs de conselho, armadilhas e um FAQ — com CTAs para simular custo de capital, comparar linhas e calibrar câmbio.
Por que “Core & Satellite” ainda é o padrão-ouro para UHNWIs
Para famílias de altíssimo patrimônio, o objetivo é perenidade e sustentação de obrigações (lifestyle, filantropia, impostos, obrigações societárias) com volatilidade aceitável em cenários diversos. O Core & Satellite: (1) separa o beta amplo e barato (núcleo) das apostas direcionais/ilíquidas (satélites); (2) permite rebalanço por bandas — realizando ganhos e comprando “o que emagreceu”; (3) simplifica o controle de riscos e a alocação por metas, inclusive de liquidez e moeda.
Arquitetura de 2026 — do IPS à carteira viva
Núcleo (Core): o motor previsível
Renda fixa global + BRL: escada entre duration curta e intermediária, combinando indexadores (CDI+, IPCA+, Treasuries, crédito grau de investimento). Objetivo: rendimento real do caixa e ancoragem de drawdown.
Beta acionário global: ETFs/fundos amplos (EUA, DM, EM) com tilts de fatores (qualidade/valor) que mitigam concentração de múltiplos e melhoram o perfil risco/retorno.
Diversificação cambial: exposição estrutural a USD/EUR (na medida da moeda do gasto futuro e do papel de diversificação), com hedge parcial quando necessário para limitar volatilidade em BRL.
Política de bandas: por exemplo, 55–70% do PL em Core, com bandas por classe/país/moeda. Disparadores automáticos de rebalanceamento (±5 p.p.).
Satélites: onde mora o alfa (e o trabalho)
Crédito privado (BRL e global): middle market, ativos com garantias fortes, covenants, originação diferenciada; monitorar inadimplência, LTV e cláusulas de proteção.
Private Equity / Growth / Secondaries: janelas de entrada via co-invest e secundários para reduzir J-curve; medir DPI/TVPI/IRR e disciplina de follow-ons.
Venture / Tech: foco em gestores com acesso primário; limitar exposição e controlar vintages. Uso tático de opportunity funds.
Real assets (infra/energia/real estate logístico): contratos indexados (IPCA+/IGP+), PPAs, concessões; duration de receita e inflação implícita.
Temáticos (satélites táticos): energia de transição, AI compute (datacenters), onshoring/logística, healthcare — com metas de risco, stop de perda e prazos definidos.
Regra prática: satélites somam 30–45% do PL, casados com metas de iliquidez (ex.: ≤ 25% em lock-up > 3 anos) e muro de liquidez progressivo (D+0/D+30/D+365).
Três camadas de liquidez — do cofre ao legado
Camada 1 (D+0/D+1): “vida” e obrigações nos próximos 12 meses (caixa, impostos, fundações). Indexadores pós-fixados e varredura automática.
Camada 2 (D+30/D+90): amortecedor tático para oportunidades/volatilidade (IPCA+/prefixado, treasuries, crédito IG). Serve ao rebalanceamento.
Camada 3 (D+365+): satélites ilíquidos (PE/infra/VC/RE). Paga prêmios de iliquidez, mas exige planejamento de chamadas de capital.
Gestão de riscos — 7 eixos para 2026
Moeda: orçar despesas em moeda forte com remessas/NDF por buckets; hedge parcial para reduzir volatilidade do PL em BRL.
Concentração: limites por gestor, estratégia, país, emissor e fator de risco.
Liquidez: liquidity coverage ≥ 24 meses de saídas previstas (família + filantropia + impostos).
Drawdown: bandas e circuit breakers (ex.: reduzir risco em -15% de queda do PL; recompor ao voltar).
Jurisdicional/fiscal: conta com custódias e veículos coerentes (on/offshore) e documentação (CRS/FATCA/DCBE).
Custo e fee drag: medir TER do Core e fee load dos satélites; negociar founders classes e descontos por ticket.
Alocação-modelo (exemplo ilustrativo, adaptar ao IPS)
Exemplo para PL consolidado, horizonte 10+ anos, aversão a perdas moderada:
Core (60%): 25% RF BRL (CDI+/IPCA+ escada), 15% RF global (IG, duration 3–5), 20% Beta global (EUA/DM/EM com tilt qualidade-valor).
Satélites (40%): 10% crédito privado (BRL+global), 10% real assets (infra/energia indexada), 8% PE/secondaries, 6% macro/market neutral, 4% temáticos (IA/saúde/onshoring) com metas de risco.
Liquidez-alvo: D+0/30/365 em 30% / 30% / 40% do PL; Moeda: 50–60% USD/EUR (hedge parcial conforme volatilidade do PL).
Execução e governança — como tirar do slide e colocar no cofre
IPS: documente objetivos (retorno real, spending rate anual), limites de risco, bandas, liquidez, moeda, seleção de gestores e regras de rebalanceamento.
Calendário: comitê trimestral; post-mortem semestral de risco/retorno; revisão anual do IPS.
Relatórios: look-through de exposição (fatores/países/setores), DAR/MaxDD, TE vs. política, fee budget, impostos, liquidity ladder.
Operacional: checagem de ODD, balcões/custódias, padrões de risco e procurações.
KPIs do conselho de família (2026)
Retorno real (nominal – inflação) vs. meta do IPS.
Tracking error vs. política e Max drawdown do PL.
Liquidity coverage (meses) e cash drag.
Fee load total (Core + satélites) e economia por classes negociadas.
Privates: IRR/DPI/TVPI, ritmo de deploy e chamadas.
Câmbio: custo efetivo médio, % de despesas em moeda forte cobertas (buckets), MtB vs. orçamento.
Armadilhas comuns (e antídotos)
Core caro e complexo: núcleo com produtos “estrela” e TER alto. Antídoto: beta barato, tilts simples e disciplina de custo.
Satélite sem processo: teses oportunísticas sem tese de saída ou métricas. Antídoto:IC memo, metas de risco/retorno e datas de revisão.
Excesso de iliquidez: lock-ups muito longos vs. obrigações. Antídoto:ladder de liquidez e limite por lock-up/vintage.
Moeda “religiosa”: 0% ou 100% hedge por dogma. Antídoto: política com faixa de hedge dinâmica e orçamento do risco de câmbio.
Governança informal: decisões sem atas, sem memória e sem ODD. Antídoto: IPS, calendário e checklists de diligência.
Casos ilustrativos (hipotéticos)
UHNW com concentração Brasil
Contexto: 80% BRL, caixa alto, baixa exposição global. Ação: migrar Core para beta global e RF IG; abrir satélites em crédito privado e infra; criar faixa de hedge 40–70% do USD. Resultado: volatilidade do PL cai, retorno real estabiliza.
UHNW com privates legados e J-curve
Contexto: vintage pesado em 2020–2022, cash calls em 2026. Ação: aumentar Camada 2 de liquidez; alocar em secondaries e real assets cash-yield; disciplinar follow-ons. Resultado: liquidez coberta e melhora de DPI.
UHNW global com riscos cambiais
Contexto: gasto em USD/EUR, patrimônio em múltiplas moedas. Ação: orçamento em moeda do gasto, remessas para fixos, NDF por buckets para variáveis; hedge parcial do PL. Resultado: queda do MtB e previsibilidade de saídas.
Playbook de 30–180 dias (do paper à execução)
30 dias — Diagnóstico e IPS: consolidar PL (on/offshore), cash flow de 24 meses, mapa de liquidez, concentração por gestor/país/moeda; redigir/atualizar IPS com bandas, metas de risco, fluxo de caixa e política de câmbio.
60–90 dias — Núcleo e trilhos: implementar Core (ETFs/fundos, RF escada), abrir contas/custódias, definir rebalanceamento automático e relatórios; contratar plataformas e painéis.
90–150 dias — Satélites fase 1: RFP de gestores (crédito, hedge funds, real assets), ODD/legais, classes negociadas e commitments faseados; definir limites por lock-up/vintage.
150–180 dias — Satélites fase 2: PE/secondaries/VC conforme janela; programar chamadas; criar liquidity ladder e “escada” de remessas/hedge para despesas em moeda forte.
Depende do spending rate, aversão a perdas e compromissos. Em geral, 55–70% em Core entrega estabilidade e disciplina de rebalanço; satélites somam 30–45% com metas de iliquidez.
Como evitar “coleção de fundos” nos satélites?
Imponha teses claras, overlap baixo entre gestores, limites por capacidade e rotas de saída. Use secondaries para reequilibrar vintages.
Hedge cambial é obrigatório?
Não sempre. O critério é a moeda do gasto e o risco de volatilidade do PL em BRL. Prefira hedge parcial com bandas e remessas para fixos.
Qual a melhor métrica para alternativos?
Para privates, DPI/TVPI/IRR e disciplina de chamadas/distribuições. Para hedge funds, correlação/drawdown, liquidez real, alavancagem e fee load.
Quando usar proteção de cauda?
Quando o IPS define limites de perda ou há obrigações inflexíveis (funding filantrópico/tributário). Pode ser via estratégias macro, tail hedges ou opções em satélites táticos.
Vinicius Teixeira
Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados.
Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor.
No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.
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