Duration de caixa: como casar prazos do caixa operacional com aplicações
Aprenda a medir o CCC, criar buckets de liquidez e montar escadas de vencimentos para reduzir risco e aumentar rendimento do caixa.
Tempo de leitura: 18 min
Empresas com ciclo de caixa previsível ganham duas coisas: segurança para honrar compromissos e rendimento ao alocar excedentes em prazos ligeiramente mais longos do que o “overnight”, sem abrir mão de liquidez. Chame isso de duration de caixa: o prazo médio ponderado em que o dinheiro entra e sai do negócio versus o prazo médio das aplicações que financiam esse fluxo. Quando o casamento é bom, você reduz “dias ociosos” em conta corrente, evita resgates forçados e melhora o retorno do caixa. Quando é ruim, sobra risco de mismatch: resgates em janelas ruins, perdas contábeis e custo de oportunidade alto.
CCC (Cash Conversion Cycle) é a bússola. Calcule Dias de Estoque (DIO), Dias de Recebíveis (DSO) e Dias de Fornecedores (DPO). CCC = DIO + DSO − DPO. Ele indica quantos dias de capital de giro o negócio come. Mas, para desenhar a duration do caixa, você precisa ir além do número agregado:
Com esse “mapa”, estime o mínimo operacional (dias de caixa que não podem faltar), o colchão de volatilidade e o excedente investível. Só então se fala de aplicações.
Pense no caixa como um time de revezamento, não como um atleta só. Cada balde tem função, mandatos e instrumentos específicos:
Escada (ladder) de vencimentos é o coração da duration de caixa. Em vez de concentrar tudo em D+0, você distribui os vencimentos para “encontrar” as saídas. Exemplo simples para uma empresa com saídas semanais robustas e grandes eventos mensais:
Vantagens: (i) reduz cash drag (dinheiro parado) sem expor a resgates forçados; (ii) captura prêmios de prazo pequenos mas cumulativos; (iii) cria disciplina. Ajuste os percentuais à sua sazonalidade e revise a cada trimestre.
Rendimento sem governança vira roleta. Estabeleça uma política de investimentos de caixa com:
Crédito: que emissor está por trás do papel? Concentração por banco ou conglomerado não deve exceder limites definidos (ex.: 20–30% do caixa total). Para PJ no regime de fundos e títulos, considere IR regressivo (fundos/títulos de renda fixa), IOF em resgates curtíssimos (primeiros 30 dias) e custos de administração e custódia. Em momentos de Selic alta, a “taxa de administração” que parecia irrelevante vira centenas de milhares no ano em bases grandes. Negocie fee por volume e avalie estrutura “cash sweep” com remuneradas.
Empresas com várias filiais/unidades enfrentam o dilema de cash pooling. Centralizar reduz sobra ociosa e fortalece poder de barganha com bancos, mas exige governança e tecnologia (contas-espelho, sweeping automático, regras de crédito interno entre empresas do grupo e compliance fiscal). Para quem não pode centralizar tudo, policy comum de duration e limites mitiga risco.
Se parte relevante dos seus recebimentos ou pagamentos é em moeda estrangeira, o casamento de prazos ganha uma dimensão extra. Duas regras:
Caixa abundante parado em D+0 enquanto você paga CDI+x no giro é desperdício. Regras simples: (i) sincronize contas-reserva e covenants com sua escada de aplicações; (ii) use pré-pagamento de dívidas caras quando a curva fecha; (iii) não estacione recursos de debêntures/NP em instrumentos de retorno inferior ao seu custo médio por longos períodos.
💠 Calcular CET e custo de oportunidade do caixa (Aurum)
📊 Simular aplicações/ captações por indexador (CDI × IPCA+ × prefixado)
Não exatamente. É o casamento entre prazo das aplicações e o calendário operacional de entradas/saídas. O foco é a aderência entre os dois.
Para o balde imediato, CDI/Selic. Para os demais, CDI com tolerância de volatilidade controlada. O alvo é bater o CDI com risco e liquidez compatíveis.
Sim, desde que a duration seja curta, emissor de alta qualidade e a liquidez esteja alinhada ao calendário. Limite concentração por emissor e monitore marcação.
Quando o calendário permite (balde estrutural) e o cenário de juros justifica. Evite prefixado no balde imediato/tático.
Acompanhe rendimento vs. CDI, cash drag (média diária em conta não remunerada), incidência de resgates forçados e aderência à escada. Queda sustentada do drag e menos emergências = política eficiente.
Tratar o caixa como ativo estratégico muda o jogo: você reduz risco operacional, melhora retorno e ganha previsibilidade. O método é simples (medir CCC, segmentar em baldes, construir escada e governar por limites), mas exige disciplina. Em 2026, empresas que dominarem duration de caixa vão financiar crescimento com menos estresse — e com alguns pontos a mais de rendimento “de graça”.
💠 Calcular custo de oportunidade e CET do caixa📊 Montar carteira por prazos (CDI/IPCA+/prefixado)▶ Testar hedge para entradas/saídas em moeda
Duration de caixa: como casar prazos do caixa operacional com aplicações
Resumo executivo: o que é “duration de caixa” e por que isso paga a conta
Primeiro, meça o seu ciclo: CCC e “mapa de saídas”
Três baldes de liquidez: imediato, tático e estrutural
1) Balde Imediato (D0–D2)
2) Balde Tático (D7–D45)
3) Balde Estrutural (D60–D365+)
Ladder: a escada que transforma calendário em rendimento
Governança do caixa: mandato, limites e papéis
Risco que importa: crédito, liquidez, marcação e operacional
Liquidez: fundos com “D+30” podem ter gates em estresse — entenda regras do regulamento.
Marcação a mercado: títulos prefixados sofrem quando a curva abre; prefira papéis atrelados ao CDI/Selic nos baldes curto/tático.
Operacional: cadastros, re-rates de crédito, checagem de garantias e reconciliação diária evitam surpresas.
Como alinhar aplicações ao calendário de saídas (sem dor de cabeça)
Impostos e custos: o que come seu retorno
Caixa em multinacionais e grupos: centralizar ou descentralizar?
Exportadores, importadores e o tempero do câmbio
Duration do passivo também conta: evite “pagar juro à toa”
Playbook 90/180/360 dias
Em 90 dias
Em 180 dias
Em 360 dias
Erros comuns (e como evitá-los)
FAQ rápido
“Duration de caixa” é o mesmo que “prazo médio de aplicações”?
Qual benchmark usar?
Posso ter crédito privado no balde tático?
Quando faz sentido travar prefixado?
Como medir se a política está funcionando?
Conclusão: caixa é estratégia — não “dinheiro encostado”
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