CDI+ vs. IPCA+ vs. prefixado — quando usar cada um e como comparar CET
Diferenças, quando usar, como comparar em bases consistentes, armadilhas, KPIs e playbook de 90–180 dias. Inclui
CDI+ x IPCA+ x prefixado: a escolha simples (e prática) para tesouraria e CFO
Resumo executivo
CDI+, IPCA+ e prefixado são os três “idiomas” do custo de dívida no Brasil. A escolha certa depende de como você projeta o fluxo de caixa (nominal ou real), de quem carrega o risco de inflação e de qual cenário de juros está embutido no seu orçamento. Em linhas gerais: (1) use CDI+ para opcionalidade e giros curtos; (2) use IPCA+ para preservar poder de compra e casar com receitas indexadas; (3) use prefixado para previsibilidade nominal quando você tem convicção na taxa. O segredo é comparar maçãs com maçãs: traga tudo para uma base comum (nominal esperado ou real) antes de decidir. Este guia mostra as “regras de bolso”, os KPIs que importam (CET, WACC, mark-to-budget), as armadilhas que encarecem sem você perceber e um playbook de 90–180 dias com CTAs para simular cenários e escolher a estrutura vencedora.
O que é cada coisa (sem economês)
- CDI+: dívida pós-fixada que acompanha a Selic/CDI com um spread. Vantagem: você não “crava” uma taxa alta se o ciclo cair. Risco: se a queda atrasar ou se houver choque, o custo sobe junto.
- IPCA+: dívida indexada à inflação (IPCA) com uma taxa real acima dela. Vantagem: preserva poder de compra do passivo e alinha com receitas reajustadas por IPCA. Risco: seu custo nominal varia com o IPCA realizado.
- Prefixado: taxa nominal travada na largada. Vantagem: previsibilidade de orçamento. Risco: se a inflação/juros caírem, você pode ficar “caro”.
Regra prática: orçamento nominal pede régua nominal; projetos em termos constantes pedem régua real. Misturar base do fluxo com base da taxa distorce a decisão.
Como comparar de verdade (maçãs com maçãs)
Para converter real em nominal esperado (ou vice-versa), use a fórmula exata:
(1 + nominal) = (1 + real) × (1 + inflação) ⇒ real = (1 + nominal)/(1 + inflação) − 1
- IPCA+R → nominal esperado ≈
(1+R)×(1+IPCA esperado) − 1. - CDI+S já é nominal; compare com o nominal esperado de IPCA+ e com o prefixado disponível.
Ao calcular o CET, inclua tudo: taxas, garantias, seguros, estrutura, prazos e perfil de amortização (amortizante x bullet). Só então compare.
💠 Aurum — comparar CET (CDI+/IPCA+/prefixado) 📊 Instrumentos de Mercado de Capitais
Quando escolher CDI+, IPCA+ ou prefixado
CDI+ (opcionalidade e giros)
- Bom para: capital de giro, estoques, necessidades táticas, dívidas com pré-pagamento provável, momentos de queda de juros.
- Evite: concentrar todo o passivo em CDI quando seu orçamento não tolera “surpresas” de caixa — você vira refém do timing da curva.
IPCA+ (projetos e receitas reajustadas)
- Bom para: projetos de longo prazo (CAPEX, utilities, infraestrutura), receitas com reajuste por IPCA, preservando poder de compra do passivo.
- Evite: usar IPCA+ quando sua receita não acompanha inflação e quando você precisa de previsibilidade nominal rígida.
Prefixado (previsibilidade de orçamento)
- Bom para: travar o custo nominal quando a taxa faz sentido para o seu orçamento, sobretudo em prazos médios, com amortização casada.
- Evite: prefixar prazos muito longos sem hedge (de inflação e câmbio) e sem margem para cenários alternativos.
Impacto no WACC e na aprovação de projetos
Consistência é tudo: fluxo nominal → WACC nominal; fluxo real → WACC real. Em empresas com mix CDI/IPCA/prefixado, traga tudo para a mesma base antes de agregar. Dois efeitos práticos:
- Risco de refinanciamento: amortizações escalonadas (em IPCA+ ou TLP) reduzem o “muro” de vencimentos e o prêmio de prazo.
- Mark-to-budget: prefixado simplifica o orçamento; IPCA+ protege poder de compra; CDI+ mantém opcionalidade — monte um blend coerente com seus KPIs.
Exemplos práticos (ilustrativos)
Giro com queda de juros no horizonte
CDI a 12% a.a., proposta de CDI+2,0% vs. prefixado a 15,2%. Se a curva aponta queda gradual, CDI+ tende a custar menos ao longo de 12–18 meses. Se o orçamento não tolera surpresas, considere prefixar parte.
Projeto com receita reajustada por IPCA
Contrato de prestação de serviço com reajuste anual por IPCA. Dívida em IPCA+6,5% protege poder de compra do passivo. Compare com prefixado: traga IPCA esperado e calcule o nominal equivalente.
CAPEX com desembolsos em fases
CAPEX dolarizado em três marcos. Estratégia: dívida amortizante (TLP/IPCA+) casada ao ramp-up e hedge de câmbio por milestone. Evite carregar bullet grande em prefixado se o caixa for sensível.
Armadilhas que encarecem seu CET
- Comparar bases diferentes: olhar IPCA+6,0% e concluir que é “6%” enquanto o prefixado é “15%” — faltou trazer IPCA esperado para nominal.
- Ignorar perfil de amortização: bullet “barato” pode virar caro com risco de refinanciamento. Amortizações reduzem prêmio de prazo.
- Custos acessórios fora do radar: taxas de estrutura, garantias, seguros, rating e B3; sempre no CET.
- Over-hedge e under-hedge: travar demais e perder opcionalidade ou travar de menos e estourar orçamento.
KPIs para o comitê financeiro
- CET after-tax por fonte (CDI+/IPCA+/prefixado) e por projeto.
- Mix por indexador: % CDI / % IPCA / % prefixado e duration média.
- Mark-to-budget (MtB): desvio do orçamento por cenário de inflação/juros.
- Headroom de covenants (DSCR, alavancagem) por cenário.
- Muro de vencimentos e concentração por trimestre.
Playbook de 90–180 dias: saindo do “depende” para o “decidi”
- Mapeie o passivo por indexador, prazo e garantias; calcule CET e duration; identifique “muros”.
- Defina a régua: em que decisões você usará base nominal e em quais usará base real; documente no comitê.
- Rode cenários: inflação/juros base, otimista, estressado. Traga IPCA+ para nominal esperado e compare com prefixados disponíveis e CDI+spread.
- Desenhe o blend: combine CDI+ (opcionalidade), IPCA+ (proteção real) e prefixado (previsibilidade) conforme o ritmo de caixa e o perfil de receita.
- Alongue com governança: se houver CAPEX elegível, avalie linhas BNDES/TLP. Em mercado, considere amortização e garantias para reduzir spread.
- Implemente e reporte: metas de mix, CET e MtB; painel mensal; proibir trading direcional e registrar memória de preço.
🧮 Aurum — CET comparativo (nominal x real) 🏛️ Linhas BNDES — TLP/IPCA+ (amortizante) 📑 Simular debêntures/NP/LC
FAQ — perguntas rápidas
IPCA+ sempre é mais barato que prefixado?
Não. Depende do IPCA realizado. IPCA+6,0% com IPCA de 5,0% resulta em nominal ~11,3%; se o IPCA rodar a 7,0%, o nominal esperado sobe para ~13,4%.
Se eu acredito em queda de juros, devo migrar tudo para CDI+?
Evite concentração. CDI+ dá opcionalidade, mas um blend com parte prefixada/IPCA+ reduz risco de orçamento e de refinanciamento.
Prefixado é sempre melhor para orçamento?
Ajuda muito na previsibilidade, mas pode sair caro em ciclos de queda. Considere amortizações e “janelas” de reavaliação para evitar aprisionamento longo.
Posso converter depois se eu errar a mão?
Sim: swaps permitem trocar indexador (CDI⇄IPCA⇄USD). Há custo e risco de base; avalie antes de estruturar.
Como explicar ao conselho por que o derivativo “deu prejuízo”?
Use mark-to-budget: o objetivo é reduzir desvio do orçamento, não lucrar com derivativos. Seguro bom custa, mas protege o cenário ruim.
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