SELIC vs. CDI vs. IPCA: quando cada um deles manda no seu custo de capital
Guia prático para escolher entre CDI, IPCA+ e prefixado, casar prazos e reduzir CET em 2026 — com simuladores para comparar operações.

Tempo de leitura: 18 min
No Brasil, quase todas as decisões financeiras orbitam três referências: SELIC (a taxa básica definida pelo COPOM), CDI (o custo efetivo do dinheiro entre instituições financeiras) e IPCA (a inflação oficial). Elas se cruzam em empréstimos, aplicações, debêntures, contratos com fornecedores, reajustes comerciais e valuation. Na prática, cada uma “manda” em momentos diferentes: a SELIC é o ponto de partida da curva de juros; o CDI é o benchmark de curtíssimo prazo e do crédito pós-fixado; e o IPCA traduz o poder de compra e indexa contratos de longo prazo. Saber qual índice domina cada decisão evita erros caros de precificação, hedge e funding.
É a taxa básica de juros da economia. Orienta a remuneração dos títulos públicos federais de curtíssimo prazo e, por tabela, a curva de juros inteira. Quando o COPOM corta ou eleva a SELIC, todo o resto — CDI, custo de captações bancárias e prêmios de risco — se reposiciona.
É a taxa média das operações interfinanceiras de um dia. Na prática, tornou-se o índice de referência de quase todo pós-fixado privado (CDB, LCI/LCA, fundos DI, linhas de capital de giro atreladas a % do CDI, etc.). Em condições normais, CDI ≈ SELIC, mas há diferenças técnicas e pontuais.
Índice de preços ao consumidor amplo, medindo inflação. Em dívidas e investimentos prefixados ou indexados à inflação, o IPCA aparece como indexador: geralmente “IPCA + spread” em títulos e financiamentos de prazos longos.
O Custo Efetivo Total (CET) é o que de fato sai do seu caixa, incluindo juros, taxas, seguros e IOF. Para saber qual índice pesa mais no CET, observe:
Taxas prefixadas são úteis quando você tem visão convicta de queda de juros ou precisa de previsibilidade extrema. Em ambientes de desinflação, prefixar parte da dívida reduz CET prospectivo. Porém, prefixado carrega risco de base: se a inflação surpreende para cima, seu preço real cai; se os juros sobem, seu custo relativo piora. Por isso, o manual do CFO sugere portfólios híbridos: uma fração CDI, uma fração IPCA e, conforme o ciclo, um “bloco” prefixado.
Fretes, aço, energia e químicos reagem a choques de commodities e câmbio. Esses choques passam pelo IPCA com defasagem, mas o seu fornecedor pode indexar por ICAs setoriais ou por bandas de reajuste trimestrais. Em contratos críticos, usar cestas de índices (IPCA, diesel ANP, câmbio) com caps/floors evita brigas e protege margem.
Planos de assinatura, locações, pedágios, fornecimentos industriais e contratos de serviços usam IPCA como indexador padrão. A tesouraria deve assegurar que as dívidas acompanhem a mesma lógica para evitar descasamento real.
A folha responde a convenções e a mercado de trabalho. A inflação pressiona salários, mas ajustes são discretos (anuais). Em ciclos de inflação alta, mesmo dívidas CDI podem ficar mais baratas em termos reais se os repasses de preço funcionarem.
O WACC combina custo da dívida (pós impostos) com custo do capital próprio. SELIC/CURVA determinam o piso do custo de dívida; IPCA altera a taxa real; o prêmio de risco (país, setor, crédito) acrescenta o resto. Em mercados voláteis, duas empresas do mesmo setor podem ter WACCs muito diferentes apenas por governança, alavancagem e qualidade de garantias. Resultado: a escolha SELIC/CDI/IPCA em cada instrumento não é neutra — ela altera o WACC e a fronteira de investimento.
Varie CDI em ±200 bps e observe efeito no CET de linhas de capital de giro. Compare com antecipação de recebíveis (FIDC) e com emissão curta no mercado.
Projete IPCA base/alto/baixo e simule dívida IPCA+ em cada cenário. Verifique sensibilidade do serviço da dívida e a cobertura via reajuste de receita.
Crie três carteiras de dívida: (A) 70% CDI | 30% IPCA+; (B) 50% CDI | 30% IPCA+ | 20% prefixado; (C) 30% CDI | 50% IPCA+ | 20% prefixado. Compare CET e volatilidade do serviço da dívida.
Receita regulada e contratos com indexação clara a IPCA/IGP. Dívidas IPCA+ fazem mais sentido, com duration longo e amortização compatível com a curva de ativos.
Receitas com correção por inflação (aluguel) e CAPEX alto. IPCA+ domina, mas empresas combinam CDI curto para bridge de obra.
Giro rápido, margem apertada e estoque sensível a juros. CDI é a régua do giro; prefixado pode ser tático em viradas de ciclo.
Receita dolarizada: atenção ao câmbio. Empréstimos atrelados a USD requerem hedge; IPCA pode ser secundário no fluxo.
Contratos de longo prazo com reajuste anual por IPCA e SLAs. Dívidas IPCA+ casam melhor, com CDI curto para capital de giro de projetos.
Não, mas andam juntos. SELIC é a taxa básica decidida pelo COPOM; CDI é a taxa efetiva entre bancos. Para o gestor, a diferença prática é pequena no dia a dia, mas existe.
Nenhum “ganha” sempre. Depende do prazo, do fluxo de receita e da sua visão de juros e inflação. Use carteiras híbridas e simulações de cenário.
Porque o IPCA previsto pode surpreender para cima e o spread IPCA+ pode ser alto. Em desinflação, IPCA+ costuma ser vantajoso — mas não é regra.
Possivelmente, se sua receita for indexada e se os prêmios IPCA+ estiverem atrativos. Simule CET em diferentes cenários antes de renegociar.
Negocie spread com base em governança e garantias, alongue prazos onde houver previsibilidade, e use mercado de capitais quando fizer sentido — sempre comparando CET.
SELIC, CDI e IPCA são engrenagens da mesma máquina. O acerto está em escolher a combinação que minimiza o CET sem criar riscos de caixa e que “conversa” com a forma como sua receita e seus custos evoluem no tempo. Para 2026, a tese vencedora é disciplina: simular, diversificar indexadores, casar prazos e deixar a governança de crédito abrir portas de funding mais baratas.
💠 Comparar CET: CDI vs. IPCA+ vs. prefixado📊 Simular debêntures/NP/LC (indexador + spread)🏗 Explorar linhas BNDES (prazo e carência)
SELIC vs. CDI vs. IPCA: quando cada um manda no seu custo de capital
Resumo executivo: por que três siglas mexem tanto com o seu DRE
O tripé em 5 minutos: definições sem jargão
SELIC
CDI
IPCA
Quem manda no CET? Regras simples que evitam armadilhas
Mapa mental: seleção de indexador por situação
Capital de giro rotativo (3–18 meses)
CAPEX de ciclo médio (2–5 anos) com receita reajustada por inflação
Projetos de longo prazo (5–15 anos): infraestrutura, imobiliário, energia
Estoque financeiro/tesouraria de curto prazo
Prefixado: quando faz sentido “travar” a taxa
Como cada índice entra na formação de preços e contratos
Compras e logística
Receita
Salários
Curva de juros, prêmio de risco e o seu WACC
Checklist de decisão: qual indexador escolher agora
Simulações que todo CFO deveria rodar
1) Giro vs. CDI
2) IPCA choque
3) Prefixado parcial
Erros comuns — e como evitá-los
Setor por setor: como o índice “certo” muda
Infraestrutura e utilidades
Imobiliário
Consumo e varejo
Agronegócio e exportadores
Serviços B2B
FAQ (perguntas frequentes)
CDI e SELIC são a mesma coisa?
O que é melhor: CDI, IPCA+ ou prefixado?
Por que IPCA+ pode sair mais caro que CDI?
Vale migrar dívida CDI para IPCA+ quando a inflação cai?
Como reduzir o custo de capital agora?
Conclusão: o índice não é o herói — o seu fluxo é
Qual é a Sua Reação?






