Política de hedge por buckets (30/90/180/360): um passo a passo

Passo a passo para montar metas de cobertura, escolher instrumentos e definir gatilhos por bucket.

Oct 22, 2025 - 10:04
Oct 22, 2025 - 10:47
 0  1
Política de hedge por buckets (30/90/180/360): um passo a passo

Política de hedge por buckets (30/90/180/360): um passo a passo

Tempo de leitura: 20 min

Resumo executivo: por que buckets funcionam no mundo real

Empresas expostas ao dólar, euro ou outras moedas oscilam entre duas dores: comprar proteção tarde e cara (depois do choque) ou pagar prêmio demais por medo. A política de hedge por buckets (30/90/180/360 dias) organiza o jogo em janelas de tempo, com metas de cobertura graduais, gatilhos mensuráveis e responsáveis claros. Resultado: previsibilidade de margem, disciplina de execução e custo médio de proteção mais baixo ao longo do ciclo.

Conceito em 1 minuto: o que é “bucket” e como ele se conecta ao seu P&L

Bucket é uma janela de tempo padronizada (30/90/180/360 dias) usada para agrupar fluxos cambiais previstos (compras, vendas, dívidas, CAPEX) e definir metas de hedge para cada janela. A empresa não tenta “adivinhar o câmbio”; ela decide quanto quer proteger em cada prazo, com qual instrumento, e quando rolar ou ajustar, de acordo com métricas e limites pré-acordados.

O método casa com a operação: 30 dias cobre embarques/faturas imediatas; 90 dias cobre pedidos firmes; 180/360 dá visibilidade de orçamento e contratos de médio prazo. Para empresas com ciclo longo, podem existir buckets adicionais (12/18/24 meses), mas o núcleo operacional costuma caber no 30/90/180/360.

Mapa de exposição: antes do hedge, a radiografia

Sem mapa, não há política que sobreviva. Em um dashboard mensal, consolide:

  • Exposições em moeda (USD, EUR etc.) por natureza: compras (insumos, frete, licenças), vendas (exportação), serviços, CAPEX e dívida.
  • Calendário de entradas/saídas (ETA/ETD, Incoterms, prazos de pagamento, lead times logísticos) casado aos buckets 30/90/180/360.
  • Exposição líquida por bucket: compras – vendas (ou vice-versa), destacando naturais hedges (receitas em moeda que compensam custos na mesma moeda).
  • Parâmetros financeiros: preço-meta, margem bruta alvo, alavancagem, limites de VaR/CFaR e covenants sensíveis a câmbio.

Com isso, você classifica exposições em firmes (pedido assinado, fatura emitida) e prováveis (previsões com histórico), definindo percentuais de cobertura maiores para as primeiras.

Metas de cobertura por bucket: a régua que tira o improviso

Um quadro típico de metas (exemplo ilustrativo para importador líquido):

  • Bucket 30 dias: 80–100% das posições firmes e 50–70% das prováveis.
  • Bucket 90 dias: 60–80% firmes e 30–50% prováveis.
  • Bucket 180 dias: 40–60% firmes e 20–30% prováveis.
  • Bucket 360 dias: 20–40% firmes e 10–20% prováveis (quando houver).

Para exportadores líquidos, inverta a lógica (venda de moeda). Empresas com mix de compras e vendas adotam cobertura líquida por bucket, impondo limites mínimos/máximos para evitar over-hedge (proteção acima da exposição real).

Instrumentos por bucket: qual ferramenta em cada janela

30 dias (execução tática)

  • NDF / Termo: simples, barato, liquidez alta; casa bem com faturas já emitidas.
  • Futuros (BM&F): agilidade e ajuste diário; exige gestão de margin.
  • ACC/ACE (exportadores): financiamento antecipado em moeda para casadinho com embarques.

90 dias (visibilidade operacional)

  • NDFs em degraus (parciais mensais): suavizam risco de “timing”.
  • Travas com teto (calls financiadas/com estruturas custo-efetivas): protegem picos mantendo upside parcial.
  • Swaps CDI↔USD (quando há dívida atrelada a CDI/BRL): ajustam base de indexação.

180 dias (orçamento e margem)

  • Estruturas de opções colar/corredor: definem faixa de custo/câmbio orçado.
  • Mix NDF + opções: parte travada, parte com teto.
  • Trade finance (import): supplier credit/forfait com custo competitivo vs. BRL.

360 dias (planejamento e funding)

  • Hedge contábil de fluxo de caixa (IFRS 9): quando a previsibilidade é crítica.
  • Opções de prazo longo (quando houver liquidez): normalmente mais caras; usar com parcimônia.
  • FX loan com hedge integrado: dívida USD casada a recebíveis USD (export) ou hedge completo (import) testado economicamente.

Gatilhos (triggers) e zonas de ação: quando aumentar ou reduzir cobertura

Para tirar emoções da mesa, defina gatilhos objetivos, por exemplo:

  • Preço: se o USD/BRL romper banda superior do orçamento (ex.: +3% do câmbio orçado), aumentar cobertura do bucket seguinte em +10–20 p.p.; se cair abaixo da banda inferior, reduzir gradualmente (mantendo mínimos).
  • Tempo: time-based roll. A cada semana, avançar a cobertura do bucket T+90 para T+60, etc., mantendo a escada cheia.
  • Risco: se VaR/CFaR exceder limite, reforçar proteção nos buckets críticos até voltar ao corredor.
  • Evento: datas de Copom, payroll (EUA), reuniões de OPEP, eleições: ampliar metas temporariamente e revisar após o evento.

Hedge accounting (IFRS 9) em linguagem simples

Se o objetivo é reduzir volatilidade contábil, planeje documentação de hedge de fluxo de caixa: relacionamento entre item protegido (compras futuras altamente prováveis) e instrumento (NDF/opção), método de eficácia (qualitativo/quantitativo), periodicidade de testes e tratamento de ineficácia. Não é burocracia: evita que o P&L vire “montanha-russa” por marcação a mercado de derivativos que, economicamente, protegem a margem.

Preço, carry e rolldown: o custo invisível (e como aproveitá-lo)

Carry é o juro embutido no NDF (diferencial de taxas BR x EUA). Rolldown é o efeito de “descer a curva” quando rola posições para prazos menores. Em ciclos de juros altos no Brasil, vender USD a termo (exportador) tende a pagar carry; comprar USD (importador) paga esse carregamento. A política por buckets aproveita janelas com stops e ordens escalonadas para diluir preço, sem “torcer” por direção.

Governança: quem decide o quê (e quando)

  • Conselho/Diretoria: aprova política (metas, instrumentos permitidos, limites de risco, contrapartes) e revisões semestrais.
  • Comitê de risco/tesouraria: executa e monitora; gatilhos semanais; decide ajustes dentro de limites.
  • Compras/Comercial/Logística: informam calendário de embarques/pedidos, defasagens de repasse e restrições contratuais; validam “exposição firme”.
  • Controladoria/Contabilidade: suporte a hedge accounting e reconciliação; controla impactos fiscais.

Relatórios mensais com cobertura por bucket, PnL de hedge, eficácia (econômica/contábil), VaR/CFaR e aderência a metas fecham o ciclo.

Exemplos práticos (importador, exportador e empresa “mista”)

Exemplo 1 — Importador de químicos (exposição USD líquida)

Mapa: compras firmes 60 dias, previsões 180; repasse ao cliente em 30–45 dias; margem alvo 22%.
Política: 30d 90% firme/60% provável; 90d 70/40; 180d 50/30; 360d 30/15. Instrumentos: NDF mensal (30/60/90), colar 180/360, gatilho +3% band. Resultado: margem anual dentro do corredor, sem “buracos” de entrega.

Exemplo 2 — Exportador de proteína (receita USD)

Mapa: embarques mensais previsíveis; custos parcialmente BRL (milho/soja indexados).
Política: vender USD por NDF em 30/90 (60–80%); opções de venda com teto em 180/360; ACC para suavizar caixa. Resultado: previsibilidade de BRL por tonelada e melhor negociação com fornecedores.

Exemplo 3 — Empresa de tecnologia com contratos SaaS em USD e custos locais

Mapa: receitas USD, churn moderado; despesas em BRL; funding CDI.
Política: comprar DI-swap para indexar parte do passivo; vender USD em NDF por 30/90/180 (50–70%); manter “buffer” em USD para 60 dias de folha. Resultado: volatilidade de margem reduzida e WACC mais estável.

Integração com compras, preço e contratos

Hedge eficaz depende de contratos inteligentes: cláusulas de bandas (repasse automático se câmbio/diesel sair do corredor), cestas de indexadores (câmbio + frete + IPCA), janelas de renegociação, e termos logísticos claros (Incoterms afetam o “timing” do risco). O comitê de preços deve se reunir quinzenalmente, alimentado pelo status dos buckets.

Indicadores de sucesso: como saber se a política “pagou”

  • Margem bruta dentro do corredor orçado, com menor variância.
  • CFaR (Cash Flow at Risk) 12 meses abaixo do limite de risco aprovado.
  • Taxa de acerto das metas de cobertura por bucket (aderência ≥ 85%).
  • PnL de hedge não é KPI isolado (hedge pode “perder” e a operação “ganhar”): olhar margem consolidada.
  • Custo médio da proteção vs. carry teórico do período (eficiência).

Playbook 90/180/360 dias

Em 90 dias

  • Mapeie exposições por moeda, bucketize (30/90/180/360) e identifique natural hedges.
  • Defina metas de cobertura por bucket (firmes vs. prováveis), instrumentos permitidos e limites de VaR/CFaR.
  • Implemente execução piloto (3 meses), com NDFs mensais e reporte semanal de aderência.

Em 180 dias

  • Inclua estruturas de opções para 180/360 (colares/corredores) e, se aplicável, ACC/ACE ou supplier credit.
  • Formalize hedge accounting de fluxo de caixa para buckets ≥ 180 quando fizer sentido.
  • Integre com comitê de preços e contratos (bandas de repasse).

Em 360 dias

  • Revise metas de cobertura e limites; adicione buckets de 12–24 meses se houver previsibilidade.
  • Avalie FX loan com hedge integrado para CAPEX/working capital em USD/EUR.
  • Padronize política anual e KPIs (margem no corredor, CFaR, aderência, eficiência de carry).

▶ Simular bucket 30/90/180/360 e perda marginal

🌎 Avaliar FX Loan vs. BRL com hedge

💠 Comparar CET das rotas de funding

Erros comuns (e como evitá-los)

  • Confundir hedge com aposta: alvo é margem, não “ganhar do mercado”.
  • Over-hedge: proteger acima da exposição firme/provável; provoca PnL negativo desnecessário.
  • Concentração de instrumento: só NDF/futuros; inclua opções e mix quando couber.
  • Desalinhamento com o “chão”: compras não informam mudanças; expondo a empresa a janelas ruins.
  • Sem governança: decisões ad-hoc, sem metas/limites, elevam custo e risco operacional.
  • Ignorar carry: estruturar proteção sem avaliar custo/benefício do diferencial de juros.

FAQ rápido

Hedge por buckets aumenta custo?

Ele troca parte da incerteza por previsibilidade. O custo médio tende a cair no tempo porque você evita compras em pânico e usa rolldown a seu favor.

Qual bucket é o mais importante?

O que concentra exposição firme e onde o repasse de preço é mais lento. Para importadores, geralmente 30/90; para exportadores com contratos longos, 180/360.

Posso usar apenas NDFs?

Sim para o curto prazo. Para janelas longas, opções protegem extremos e preservam upside, a um custo; avalie um mix.

Como evito “perder” se o câmbio voltar?

Use metas parciais por bucket, estruturas de teto (colar) e políticas de redução de cobertura quando o preço entrar na banda inferior.

Hedge accounting é obrigatório?

Não, mas reduz volatilidade contábil. Se a governança e o auditor concordarem, vale para buckets ≥ 180.

Conclusão: política simples, execução disciplinada

Hedge por buckets transforma incerteza em processo. Ao distribuir cobertura entre 30/90/180/360 dias, definir metas e gatilhos, e integrar compras, vendas e tesouraria, sua empresa ganha margem previsível, menor estresse e custo médio competitivo de proteção. Não é adivinhação — é gestão.

▶ Montar sua escada 30/90/180/360 agora🌎 Simular FX Loan com hedge💠 Comparar CET e prazos de funding

Qual é a Sua Reação?

Like Like 1
Não Curtir Não Curtir 0
Love Love 0
Engraçado Engraçado 0
Irritado Irritado 0
Triste Triste 0
Uau Uau 0
Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.