Ciclo de lucros dos bancos: JCP, inadimplência e custo de funding

Lucros, spreads e funding em ajuste. Veja como o ciclo bancário afeta investidores e tesourarias — e como refletir isso na sua estratégia.

Oct 21, 2025 - 09:35
Oct 22, 2025 - 00:30
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Ciclo de lucros dos bancos: JCP, inadimplência e custo de funding

Ciclo de lucros dos bancos: JCP, inadimplência e custo de funding — leitura para PF e para tesourarias de PJ

Leitura: 14–18 min 

Com resultados ainda robustos, mas spreads em ajuste e inadimplência subindo na margem, o ciclo dos bancos brasileiros entra em uma nova fase. Entenda como JCP, crédito e custo de funding se conectam — e o que isso sinaliza para investidores e empresas.

Por que olhar o ciclo bancário importa

Bancos são um espelho do país: quando o lucro cresce, geralmente a economia está aquecida, a inadimplência sob controle e o crédito fluindo. Quando o lucro encolhe, há sinais de aperto financeiro ou mudança no custo do dinheiro. Em 2025, o setor vive um ponto de inflexão: lucros ainda altos, mas com margem financeira apertando e custo de captação (funding) em alta relativa.

Para investidores (PF), o ciclo bancário ajuda a entender o nível sustentável de JCP e dividendos. Para empresas (PJ), revela o direcionamento de spreads e política de crédito que definem o custo de capital.

Lucros e distribuição: o JCP como termômetro

O Juros sobre Capital Próprio (JCP) é um dos principais canais de remuneração de acionistas no Brasil. Seu volume depende diretamente da geração de lucro líquido ajustado e das regras fiscais. Depois de anos de estabilidade, a tendência recente é de menor payout via JCP e mais uso de dividendos tradicionais, diante de mudanças na tributação e na rentabilidade marginal.

  • Retorno sobre patrimônio (ROE): os grandes bancos mantêm ROEs entre 15% e 20%, mas com ligeira compressão na margem financeira (spreads menores e custo de funding maior).
  • Payout ajustado: o JCP ainda é relevante, mas com peso menor em relação a 2020–2022, refletindo ajustes contábeis e cautela regulatória.
  • Implicação para o investidor: a previsibilidade de distribuição diminui, e o retorno depende mais da valorização das ações do que apenas do fluxo de caixa (yield).

Spreads: o pulso da intermediação

O spread bancário — diferença entre o que o banco cobra no crédito e paga no funding — é a base da margem financeira. Ele é afetado por quatro forças: juros reais, inadimplência, competição e custo regulatório.

O que está acontecendo agora

  • Inadimplência em alta moderada: especialmente em crédito ao consumo e pequenas empresas, reduz o apetite para risco e pressiona spreads.
  • Custo de captação maior: com Selic ainda alta e competição com fundos e debêntures, os bancos precisam pagar mais para captar depósitos e letras financeiras.
  • Competição de fintechs: aumenta o custo marginal de atrair clientes, especialmente em linhas de cartão e crédito pessoal.
  • Regulação prudencial: exige mais capital para crédito de risco, o que encarece o spread em segmentos específicos (PJ e consignado privado).

O resultado é uma margem financeira líquida em compressão: bancos continuam lucrativos, mas com ROEs mais sensíveis ao mix de produtos e à eficiência operacional.

Inadimplência: o freio de mão do ciclo

Após o pico pós-pandemia, a inadimplência estabilizou, mas em níveis mais altos que a média histórica. No crédito PJ, o movimento é desigual: grandes empresas seguem saudáveis; PMEs, mais pressionadas. No PF, o crédito não consignado e o rotativo seguem como pontos de atenção.

  • Famílias: endividamento total ~49% da renda anual, segundo o BC; ainda sustentável, mas sem espaço para expansão agressiva.
  • Empresas: adimplência alta em grandes corporações; deterioração moderada em micro e pequenas, principalmente nas linhas de capital de giro e cartão PJ.
  • Respostas dos bancos: reforço de provisões, maior exigência de garantias e substituição de crédito livre por garantido (FGI, FGO, BNDES).

O cenário é de inadimplência controlada, mas não benigno. O “freio de mão” impede expansão acelerada, e o crédito cresce apenas nos segmentos de menor risco ou com funding direcionado.

Custo de funding e competição por depósitos

O custo de captação é o fator mais sensível do momento. Com juros elevados por tempo prolongado, os investidores migram de poupança para títulos indexados ao CDI e debêntures de crédito privado, forçando os bancos a remunerar mais seus passivos.

  • Letras Financeiras (LFs) e CDBs: oferecem taxas próximas a 100% do CDI, encarecendo o funding médio.
  • Depósitos à vista e poupança: participação menor no total; perdem atratividade e reduzem a “gordura” de custo zero.
  • Mercado de capitais: empresas médias acessam diretamente debêntures, reduzindo a demanda por crédito bancário e pressionando spreads.

Resultado: o custo médio de funding subiu cerca de 0,5–1 p.p. em relação ao início de 2023. Isso afeta o lucro marginal de cada novo real emprestado.

Implicações para PF e PJ

Para o investidor (PF)

  • Ações de bancos: lucro resiliente, mas menos “crescimento fácil”. O foco deve ser em ROE sustentável e múltiplos baixos (P/L, P/VPA).
  • Fundos de crédito: spreads maiores refletem o custo de funding e o risco da inadimplência — selecione gestores que filtram qualidade e duration.
  • Carteira equilibrada: bancos seguem bons geradores de caixa e dividendos, mas o investidor precisa ajustar expectativas de crescimento.

Para empresas (tesourarias de PJ)

  • Taxa final (CET) depende mais do risco setorial e da relação com o banco do que apenas da Selic nominal.
  • Estratégia de funding: avalie emissões próprias (NP, debêntures, CRI/CRA) quando o spread bancário subir demais.
  • Negociação ativa: comparar bancos, buscar linhas garantidas (BNDES, FGI) e revisar covenants financeiros podem gerar ganhos relevantes.


Cenários para 2025

Cenário Lucro Spreads Funding Implicação
Base ROE 15–17% Estável, leve compressão Custo alto, mas estável Lucros ainda robustos, payout seletivo
Altos juros prolongados ROE 13–15% Pressão em crédito ao consumo Funding caro e competitivo Mais provisões, spreads maiores, lucro moderado
Juros em queda gradual ROE 17–19% Spreads estáveis ou ligeiramente menores Funding melhora Expansão moderada de crédito e retomada de payout via JCP

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Este conteúdo tem caráter educacional e não constitui recomendação de investimento. Avalie perfil, horizonte e risco antes de investir.

Fontes e leituras recomendadas



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Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.