Juros reais: como calcular e por que eles mandam na sua carteira
Entenda juro real ex-ante, inflação implícita (break-even) via NTN-B e como isso define o mix entre pós, prefixado, IPCA+ e crédito privado.

• Leitura: 12–16 min • Editoria: GX Explica
Entenda o que são juros reais ex-ante, como estimar a inflação implícita via NTN-B, por que o juro real “ancora” preços de ativos e como usar essa bússola para decidir entre pós, prefixado, IPCA+ e crédito privado — sem perder de vista seu horizonte e tolerância a risco.
Quando você pensa em “renda fixa”, normalmente olha para a taxa que aparece na tela: Selic, CDI, prefixados, IPCA+… Só que todas essas fotinhos são, no fim, um retrato do juro real somado a uma expectativa de inflação e a um prêmio de risco/liquidez. É o juro real que determina o valor do dinheiro no tempo e, por isso, é a grande referência para precificar tudo: títulos públicos, crédito privado, bolsa, imóveis e até os planos da sua vida (aposentadoria, educação, independência financeira).
Este guia vai direto ao ponto: o que é juro real ex-ante (antes do fato), como calcular, como ler a inflação implícita na curva (o “break-even” extraído das NTN-B), e como usar essa visão para ajustar sua carteira entre pós, prefixados, IPCA+ e crédito privado. No final, você terá checklists práticos e um plano de ação para conversar com um planejador financeiro.
É a taxa nominal menos a inflação realizada no mesmo período. Ex.: se seu CDB rendeu 14% no ano e o IPCA acumulado foi 6%, seu juro real ex-post foi ~7,5% (pela fórmula exata). Útil para avaliar o passado, mas não decide o próximo passo.
É a taxa nominal menos a inflação esperada para o período do investimento. Aqui está a mágica: decisões são tomadas olhando para frente. Por isso, usamos o juro real ex-ante como referência de custo de oportunidade e precificação.
É uma estimativa teórica: a taxa real que nem acelera nem freia a economia no longo prazo. Não serve para comprar um título, mas ajuda a entender se estamos em um mundo de “aperto” ou “estímulo” real.
A regra de bolso “nominal − inflação” é aproximada. A relação exata é:
(1 + juro_real) = (1 + juro_nominal) / (1 + inflação)
Quer fazer sem calculadora científica? Use a aproximação quando as taxas não forem muito altas. Exemplo:
A inflação implícita é a taxa de inflação esperada que iguala o retorno de um título prefixado ao de um título indexado ao IPCA (NTN-B) com mesmo vencimento. Na prática:
Inflação Implícita ≈ (1 + Yield Prefixado) / (1 + Yield Real IPCA+) − 1
Exemplo didático: se a LTN 2029 rende 11,5% a.a. e a NTN-B 2029 rende IPCA+ 6,0% a.a., a inflação implícita 2029 está próxima de 5,2% a.a. (aprox.). Se você acha que a inflação observada será maior do que isso, IPCA+ tende a ser melhor; se acha que será menor, o prefixado tende a ganhar.
Por que importa? Porque a disputa prefixado × IPCA+ é, no fundo, uma aposta sobre inflação futura. E é essa inflação esperada que fecha a conta do juro real ex-ante de cada alternativa.
A curva das NTN-B mostra os cupons reais (IPCA+) em diversos prazos. Quatro leituras práticas:
Boa parte dos títulos de crédito privado (debêntures, CRIs/CRAs, LCIs/LCAs) é negociada como “IPCA+X” ou “CDI+Y”. Esse “X” ou “Y” é, essencialmente, um prêmio de risco por cima do juro real de referência (curva NTN-B ou CDI real), incorporando fatores como risco de crédito, liquidez e prazo.
Leituras úteis:
O núcleo é a parte estável que banca seus objetivos. Em um ambiente de juros reais elevados, faz sentido concentrar em pós-fixados de qualidade (liquidez e previsibilidade) e adicionar IPCA+ intermediário para travar um poder de compra real por alguns anos.
Prefixados (LTN/NTN-F) e IPCA+ longos funcionam como “alavancas” para cenários em que você espera queda do juro real/nominal. Alocação moderada e com prazo compatível ao seu horizonte.
Use para incrementar retorno real em cima da curva. Prefira fundos diversificados com governança sólida de marcação a mercado e política de risco clara. Para carteira direta, limite concentração por emissor e setor.
Deixe um pouco de caixa para “aproveitar janelas” (debêntures incentivadas, emissões primárias atrativas). O custo de ficar 100% alocado pode ser perder o melhor negócio do semestre.
Cenário A — você tem R$ 100 mil e horizonte de 3 anos. A curva mostra IPCA+ 5,8%–6,3% a.a. no miolo e LTN a 11,3% a.a.. A implícita para 3 anos sai ~4,7%–5,1% a.a. Se você acha que a inflação real ficará abaixo disso, prefixado faz sentido. Se acha que ficará acima, IPCA+ tende a vencer. Sem tese forte? Combine: 50% pós (caixa/tesouro Selic), 30% IPCA+ intermediário e 20% prefixado.
Cenário B — você pensa em aposentadoria (10+ anos). A NTN-B longa oferece IPCA+ real alto, mas oscila muito. Se você dorme bem com volatilidade e tem “perna” para carregar, pode destinar uma fatia. Se não, prefira graduar a exposição: IPCA+ intermediário e, aos poucos, alongar quando as condições ajudam (queda de cupom real).
Cenário C — crédito privado: um fundo IG entrega CDI+2,0% a.a. Com CDI real em ~x% e inflação esperada em ~y%, você tem um retorno real esperado de ~(x+2)%. Compare com IPCA+ dos títulos públicos: se o prêmio limpo de risco e liquidez compensa, ok. Se não, ajuste a mão.
Não. Ex-ante é expectativa. O ex-post (realizado) pode ficar acima/abaixo. O importante é decidir com base no cenário mais provável e manter disciplina de carteira.
Porque o principal e os cupons são atualizados pela inflação. O cupom real (ex.: IPCA+ 6%) preserva seu ganho acima do IPCA no tempo.
Sim, quando você acredita que a inflação/juros cairão mais do que o mercado precifica. Use tamanhos moderados e prazos que caibam no seu horizonte.
Pode aumentar, ao adicionar spread. Mas carrega risco de crédito e de liquidez. Diversificação e controle de risco são mandatórios.
Com um planejador, você define meta real, lê a curva IPCA+ no seu prazo, escolhe o mix entre pós, prefixado, IPCA+ e crédito, e cria um calendário de rebalanceamento que respeita seu perfil.
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