Ajuste fiscal ou eleição? Governo aumenta impostos e ignora cortes

Haddad defende tributos sobre “turma da cobertura”, mas gastos seguem crescendo. Veja riscos fiscais, impacto nos juros e estratégias de proteção.

Jun 27, 2025 - 16:29
Jun 27, 2025 - 23:18
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Ajuste fiscal ou eleição? Governo aumenta impostos e ignora cortes
Governo aumenta impostos e ignora cortes

Aumento de impostos sem cortes: ajuste fiscal ou manobra eleitoral?

Tempo de leitura: 8 min  |  Atualizado em: 27 jun 2025

1. Introdução

Em evento recente na USP, o ministro da Fazenda Fernando Haddad chamou de “turma da cobertura” os contribuintes de alta renda que, na visão dele, precisam pagar mais impostos para um “ajuste fiscal justo”. O discurso ocorre poucos dias depois de o Congresso derrubar a alta do IOF, medida que buscava recompor R$ 10 bi de arrecadação perdida.1 Enquanto isso, gastos obrigatórios seguem crescendo acima da inflação e a meta de superávit de R$ 30 bi parece cada vez mais distante. Neste artigo, a equipe de research da GX Capital examina:

  • O conteúdo e as motivações por trás do novo discurso tributário;
  • Por que a estratégia “arrecadar-mais-sem-cortar” deteriora a confiança ;
  • Efeitos no custo de capital das empresas e no prêmio de risco Brasil;
  • Como CFOs podem blindar caixa e margem num ciclo eleitoral incerteiro.

2. O novo discurso de Haddad: tributar “quem está na cobertura”

Falando a ex-alunos da Faculdade de Direito da USP, Haddad defendeu que o ajuste fiscal só será legítimo se atingir “fortemente os que concentram renda”, apontando para alíquotas mais altas sobre dividendos e patrimônio :contentReference[oaicite:0]{index=0}. Ele reiterou que aceitar o comando da Fazenda “porque Lula quer o pobre no orçamento e o rico no IR”, reforçando o tom eleitoral do debate :contentReference[oaicite:1]{index=1}.

Na prática, a equipe econômica aposta numa “solução de receita”:

  • Tributar fundos exclusivos e offshores em 15 %–20 %;
  • Elevar IR sobre Juros sobre Capital Próprio de 15 % para 20 %;
  • Aumentar CSLL para setores de margem alta (bancos, bets, big tech).

O problema, alertam analistas, é que essas medidas exigem aprovação legislativa — e o governo acaba de sofrer derrota acachapante no tema IOF, sinalizando frágil base de apoio :contentReference[oaicite:2]{index=2}.

3. A conta que não fecha: despesa obrigatória avança 6 % real

Mesmo se todos os novos impostos passarem, a Fazenda projeta aumento real de despesas de 6 % em 2026, puxado por Previdência, piso da enfermagem e Fundeb. Sem contrapartida do lado do gasto, a carga tributária pode subir para 35,7 % do PIB — maior patamar da série histórica.
Históricos de outros emergentes mostram que aumento isolado de receita eleva risco país quando não há consolidação do gasto. Exemplo: África do Sul 2016–18, onde a dívida/PIB saltou 10 p.p. apesar de alta de impostos.

4. Leitura dos mercados: risco fiscal reprecificado

4.1 Curva de juros

DI Jan-29 abriu 55 bps após o discurso, refletindo temor de erosão do arcabouço fiscal. Cada 50 bps de alta na curva significa +R$ 42 bi por ano em serviço da dívida federal.

4.2 CDS e câmbio

O CDS 5 anos subiu 18 bps em três pregões, enquanto o dólar testou R$ 5,60, apesar da Selic em 15 %. Estrangeiros exigem prêmio extra para financiar contas públicas que não mostram disciplina estrutural.

5. Implicações diretas para as empresas

  • Custo de capital — WACC sobe 1 p.p. na média, reduzindo valor presente de projetos de longo prazo;
  • Crédito bancário — spreads sobre CDI já avançam 30 bps em capital de giro, refletindo piora de rating soberano;
  • Câmbio e hedge — volatilidade de 90 dias no USDBRL saltou para 12 %; opções de proteção ficam mais caras;
  • Planejamento tributário — incerteza sobre JCP e IR dificulta dividend policy e estimativa de fluxo de caixa.

6. Agenda eleitoral contamina o debate fiscal

A menos de 15 meses das eleições municipais e a 30 meses da presidencial, a equipe política do Planalto evita propor cortes em abono salarial, subsídios ou transferências sociais. Qualquer ajuste em benefícios pode custar votos em bases estratégicas. Por isso, a saída “mais impostos” parece tentadora, mas agrava a desconfiança de investidores que financiam a dívida — uma espécie de “imposto invisível” na forma de juros mais altos no longo prazo.

7. Estratégias defensivas sugeridas pela GX Capital

  1. Alongar dívida já • Emita debêntures ESG ou CRIs/CRAs para travar taxa antes que a curva avance mais.
  2. Dolarizar parte do caixa • NDF ou posição natural (exportação) para 20 % da despesa de 12 meses.
  3. Revisar dividend policy • Simule cenários com IR sobre JCP em 20 % e dividendos em 15 %.
  4. Eficiência de capital de giro • Reduza sinal de caixa preso (estoque, contas a receber) para compensar custo de crédito mais alto.

8. Conclusão

Ao insistir em elevar impostos sem enfrentar a rigidez do gasto, o governo adia o ajuste real e põe em risco a credibilidade fiscal — exatamente o ativo que segura o prêmio de risco num país de dívida alta. Para as empresas, o recado é claro: antecipe captações, proteja fluxo de caixa e prepare-se para volatilidade adicional até que o debate sobre contrapartidas de despesa seja levado a sério.

▶️ Simular impacto fiscal no custo de capital

Referências

  1. InfoMoney, “Haddad volta a defender cobrança de ‘turma da cobertura’ para ajuste fiscal justo”, 27 jun 2025. :contentReference[oaicite:3]{index=3}
  2. InfoMoney, “Haddad diz que aceitou Fazenda porque Lula quer ‘pobre no Orçamento e rico no IR’”, 27 jun 2025. :contentReference[oaicite:4]{index=4}
  3. CNN Brasil, “Congresso pode derrubar alta do IOF; o que muda para o governo?”, 24 jun 2025. :contentReference[oaicite:5]{index=5}

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Vinicius Teixeira Vinicius Teixeira é especialista com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com foco em soluções estratégicas para câmbio, crédito estruturado e inteligência financeira para empresas. Ao longo da carreira, ajudou centenas de negócios a tomarem decisões mais inteligentes e rentáveis, sempre com uma abordagem analítica, consultiva e baseada em dados. Fundador da GX Capital, Vinicius combina sua vivência de mercado com o uso de tecnologias avançadas e inteligência artificial para oferecer uma nova geração de serviços financeiros. É também palestrante, tendo participado de eventos e formações voltadas à educação financeira e à transformação digital no setor. No portal da GX Capital, compartilha sua visão sobre o futuro do mercado, tendências econômicas e estratégias práticas para empresas que querem crescer com eficiência e segurança.